Gostaria de atentar para algumas questões acerca do ato criativo e o que Duchamp nomeia de “coeficiente artístico”.
Se prestarmos os atributos de um médium ao artista, temos de negar-lhe o estado de consciência do plano estético e, nesse caso, ele não saberá o que está fazendo ou por que está fazendo. Todas as suas decisões durante a execução da obra de arte repousam somente na intuição e não podem ser traduzidas numa auto-análise, falada ou escrita, ou mesmo pensada. A idéia que faço de arte é a de que tanto ela pode ser ruim ou boa, como indiferente, mas de qualquer modo continua sendo arte, da mesma maneira que uma emoção, por ser ruim, não deixa de ser uma emoção. Portanto, quando me referir ao coeficiente artístico, fica entendido que estou tentando descrever o mecanismo subjetivo que produz arte no estado bruto – ruim, boa ou indiferente. No ato criativo, o artista passa da intenção para a realização por meio de uma cadeia de reações totalmente subjetivas. Sua luta para chegar à realização é feita de trabalhos, sofrimentos, satisfações, recusas, decisões, que não podem e não devem ser plenamente conscientes, pelo menos no plano estético. O resultado dessa luta é uma diferença entre a intenção e a realização, uma diferença da qual o artista não tem consciência. O coeficiente artístico pessoal é como uma relação aritmética entre o não-expresso mas pretendido e o não intencionalmente expresso.
E ele conclui: O ato criativo não é executado pelo artista sozinho; o expectador põe a obra em contato com o mundo externo ao decifrar e interpretar seus atributos internos, contribuindo dessa maneira, para o ato criativo.