a monografia é um processo de aprofundamento no conhecimento de si
Estavam guardados vinte e quatro cadernos de anotações das aulas do curso de artes, tanto teóricas quanto práticas, que registraram momentos cotidianos e transformações atreladas à uma vivência acadêmica, no que diz respeito ao um estado sensível, ao longo de anos de práticas artísticas pensando a criação de arte nos anos entre 2004 e 2010. Por um momento foram descobertos de uma nova maneira, logo no início do processo de criação. Esse material é reunido e usado como fonte primária da pesquisa para dar forma, no presente, às potências latentes da memória ali encontrada no sentido de atualizar um arquivo vivo. Mas estão agora sob forma de objetos empilhados em uma coluna vertical de vidro, material frágil e rígido ao mesmo tempo. Polido demais, talvez. Acompanhados de uma pasta de legendas criadas que pode ser consultada como uma espécie de bula dos cadernos. Cristalizados e bem guardados, relíquias intocáveis. Sem força de brotar o novo.
Contato real e visual. Contato experiencial, de tato. Aproximação visual dos detalhes. Da sensibilidade pelos detalhes das experiências artísticas. Da estruturação das idéias e métodos particulares que envolvem os sentidos sensíveis nesse trajeto em artes. Pelas imagens selecionadas de um mundo infinito de imagens. Pelas imagens desconhecidas. Pelos trajetos inusitados e movediços. O ambiente de criação em artes ligado à processos da memória da artista e da memória do público em contato com sua obra.
O processo de criação é metodologia singular e esponjosa. Penso em fazer o trabalho partindo da articulação e aprofundamento dos conceitos de lógica não linear, fragmentos e camadas do todo, ressonância de marcas no presente, transformações sensíveis, memória viva e arquivo atualizado. Intuição como método. Através dessa porosidade artística vou acrescentando (marcadores) e significando dados (legendas), reconhecendo e esvaziando páginas (recortes). Cada caderno tem uma legenda específica e singular para si, estão enumerados. Mesmo que os marcadores sejam semelhantes quanto à suas cores e formas, seus conteúdos são variáveis e imprevisíveis. Não existe uma classificação óbvia, existe uma classificação criativa e não informativa. Não explicativa. Ao invés de pasta pode se transformar em cardápio, pelo sentido tátil e da proposta. Ficam como registro do processo de criação e podem ser acessados a qualquer momento pela artista e pelo público curioso pelas sutilezas do cotidiano.
Como ativar a potência de algo que está guardado no tempo? Quais marcas desse percurso acadêmico têm ressonância hoje? O que constitui uma memória viva? Para encontrá-la quais são os caminhos? O que me compõe como jovem artista? Oque existe de memória viva em nós que pode ser atualizada? Essa memória precisa ser atualizada? Qual é a potência de um arquivo morto? Os caminhos vividos são diferentes em que dos caminhos vivos? O que constitui nossos lugares impossíveis? O espaço percorrido? O tempo caminhado? Os objetos conhecidos no percurso? Os fluxos e as trocas do caminho? Como ressoam no presente?