Visualizações do blog

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Undergångens arkitektur


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Underg%C3%A5ngens_arkitektur

Nos minutos iniciais do filme, é apresentada a missão assumida pelos nazistas de "purificar" a terra alemã dos males que a assolavam, definindo aquilo que os nazistas chamaram de "corpo do povo da Alemanha". Com esse discurso, os nazistas passaram a perseguir diversos grupos da sociedade, principalmente as pessoas com deficiências e os judeus, tratando-os como se fossem bactérias ouvírus,quando o documentário exibe os guetos poloneses - um verdadeiro câncerque se difundia pelo mundo a ser contido e removido da sociedade alemã. Amedicina alemã deveria trabalhar em prol desse corpo do povo, e não em prol do indivíduo, e nesse sentido diversos médicos acabaram se tornando filiados ao Partido Nacional Socialista Alemão a fim de conseguirem subir na carreira. Contudo, esse discurso “higienista” acaba sendo incorporado a uma questão de ordem estética, fundindo de certa maneira padrões de beleza (a “grande arte” idealizada por Hitler, que via na Antigüidade Clássica especialmente a fusão das paixões de Esparta, Atenas e Roma bem como na obra de Richard Wagner o ápice da manifestação artística humana; sendo bastante influenciado pelo romantismo alemão da segunda metade do século XIX) com questões de ordem médica. Como exemplo disso, temos o rebaixamento da arte moderna, dentro da lógica totalitária nazista, para uma chamada "arte degenerada". Hitler chega até mesmo a elaborar duas exposições de arte, uma divulgando a "arte sadia", condizente com suas concepções estéticas da raça ariana, e outra exposição, desta vez da "arte degenerada", mostrando ao povo alemão como era a arte que eles não deveriam apreciar. Chegou-se ao ponto de comparar diversas obras modernistas com fotos de casos de deformação congênita, retiradas de revistas médicas da época, o filme mostra o acervo da cultura hitlerista apreendido pelos aliados.
Retomando o discurso estético e biológico dos nazistas, os manicômios são apresentados durante o documentário como uma subversão da ordem natural, uma vez que enquanto o "povo alemão" vivia em condições paupérrimas, pessoas doentes, loucos e toda ordem de enfermos viviam cercadas de luxo e beleza que elas nem mesmo seriam capazes de contemplar. Dentro dessa mesma lógica, já no meio do documentário, é apresentado o filme nazista intitulado Vítimas do Passado (1937), onde a intenção é também a de "biologizar" o discurso nazista, que defendia a eugenia através da prática da "eutanásia", termo não adequadamente empregado, uma vez que era realizada sem o consentimento do enfermo ou de sua família. "Na natureza, tudo o que não é adequado perece"; - diz o documentário nazista, induzindo os telespectadores a adotarem a mesma lógica para a sociedade na qual eles viviam, onde os mais aptos deveriam ser recompensados e os menos aptos exterminados.
A prática da eugenia nazista, de acordo com o documentário de Cohen, teria começado com a esterilização de doentes e passado então para morte de crianças com algum tipo de má formação, passando num próximo momento, já no fim daSegunda Guerra, para o extermínio de judeus na chamada “solução final”. Essa prática de matar não apenas judeus "estrangeiros", mas também as próprias crianças e soldados alemães considerados inaptos, vai ao encontro do que afirmaHannah Arendt, para quem o totalitarismo seria uma forma de domínio inovadora, uma vez não se limitaria a destruir as capacidades políticas do ser humano, isolando-o em relação à vida pública, como faziam as velhas tiranias e os velhosdespotismos, mas tenderia a destruir os próprios grupos e instituições que formam o tecido das relações privadas do homem, tornando-o estranho assim ao mundo e privando-o até de seu próprio eu.
A narrativa do documentário é feita por vezes de modo irônico, tratando Adolf Hitler como uma pessoa frustrada, "limitada intelectualmente" e cujos projetos por vezes eram por vezes de "resultados amadorísticos". Logo no início Peter Cohen apresenta Hitler como um arquiteto e pintor frustrado por sua não-admissão na Academia de Artes de Viena, criando uma subseqüente obsessão pela Antiguidade Clássica, Richard Wagner e Linz, sua cidade natal.

FILME ONLINE: https://www.youtube.com/watch?v=IBqGThx2Mas


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Cohen

Peter Cohen (23 de Março de 1946) é um cineasta sueco, nascido na cidade de Lund, um ano após o término da Segunda Guerra Mundial e cujo pai foi um judeu alemão perseguido pelo regime nazista, tendo fugido de Berlim em 1938. Sua principal obra, um documentário que levou alguns anos para atingir os cinemas alternativos dos Estados Unidos da América e Brasil, narra a apropriação do líder da Alemanha nazista, Adolf Hitler, de um discurso estético para legitimar a perseguição e extermínio dos judeus e de outras minorias na Alemanha da década de 1930, legitimando assim o título adotado para descrever o regime totalitário nazista. No livro de Hannah Arendt intitulado As Origens do Totalitarismo, por sua vez, o terror totalitário hitleriano também serviria para traduzir, na realidade, o mundo fictício da ideologia e confirmá-la, tanto em seu conteúdo quanto em sua lógica “deformada”.

TEXTO CRÍTICO DO FILME: ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO – PETER COHEN (1992) por Paula Martins Borela, mestranda em Artes pela Universidade Federal de Uberlândia. Maio/2015. Filme exibido na disciplina de TÓPICOS ESPECIAIS EM CRIAÇÃO E PRODUÇÃO EM ARTES: INTERFACES ARTES E POLÍTICA. Profa. Beatriz Basile da Silva Rauscher.
Sobre a fotografia/direção de arte. Sobre a narração. Sobre as apropriações do diretor. Sobre o cinema como denúncia e documento.
As imagens aparecem como uma grande colagem de recortes de outros documentários e registros reais, que se sobrepõem às pinturas e esculturas apresentadas na época. Algumas imagens, naturalmente densas e agressivas, nos levam a acreditar no falso ideal de embelezamento do mundo proposto principalmente quando se trata das reproduções de outros vídeos exibidos nos cinemas alemães. Entendemos hoje tais vídeos como argumentos fortes da propaganda política do sistema ideológico criado por essa corrente de pensamento crua, mórbida e desumana. No entanto, essa percepção não era desenvolvida naquele momento, devido à falta de acesso à informação as pessoas foram literalmente enganadas pelos vídeos produzidos com essa finalidade. Em decorrência dos múltiplos e difusos meios de comunicação que temos hoje, podemos desvendar com muito mais facilidade os mistérios/mitos que atormentavam as pessoas em outrora: inconscientes dos fatos reais eram ludibriadas pelo poder estético nazista. O filme mostra uma cronologia linear, reforçando ainda mais o uso e apropriação das imagens na construção de uma lógica arquitetada estrategicamente.
Originalmente o filme é narrado no idioma alemão, o que confere mais autenticidade nas cenas organizadas pelo diretor. Vale a pena assistir em outra língua para notar essa sutil diferença (em inglês por exemplo, como temos acesso na WEB). A narrativa é seqüencial, direta, descritiva e informativa, por isso talvez seja um pouco entediante num primeiro contato com a produção audiovisual. Irônica em seus momentos de pausa. Silenciada talvez pelo arrebatamento do fenômeno estético nazista, criticando-o, o diretor usa o silencio para situações de profunda reflexão. O narrador situa-se no tempo dos acontecimentos. Porém o espectador mobiliza-se no tempo e no espaço partindo de duas esferas que se interpenetram: passado/presente, local/global. Depois de acionado o dispositivo crítico-estético para penetração no universo do filme de modo a reviver o contexto, somos dilacerados na dureza e crueldade do pensamento nazista. Reposicionamo-nos através do tempo dos fatos relatados bem como localizamos nossos pontos de vista no tempo real e presente, o que confere a uma  leitura cinematográfica crítica certo dinamismo e atualização na contemporaneidade.
Peter Cohen, como ninguém, apresenta-nos um quebra-cabeça que remonta a realidade estética extremamente bem articulada (do ponto de vista político e cultural) dos ideais protagonizados por Adolf Hitler. Os números citados são expressivos: as obras bi e tridimensionais adquiridas, compradas nas exposições de arte; projetos arquitetônicos incrivelmente exagerados e superdimensionados; quantidades inacreditáveis de pessoas que pretendia reunir em seus comícios, ao mesmo passo os incontáveis visitantes em espaços culturais pensados para abrigar centenas de milhares de pessoas; os vários médicos que participaram do extermínio de pessoas inocentes em massa; as mirabolantes e quantitativas ações de destruição. Existiu como nunca em um ser desumano, uma carga excessiva de projeções (ideológicas, estruturais, físicas e mentais) no mal sentido. Talvez no pior sentido possível, pois feria em ordem, número, gênero e grau os preceitos de cidadania e de liberdade, e mesmo assim foram colocadas em prática, tendo repercussões ao longo da história.
Quando nos deparamos com tamanha e frenética arquitetura de pensamento de Hitler, muito bem nomeada pelo paradoxo ARQUITETURA (construção) e DESTRUIÇÃO, identificamos sua preferência e crença pessoal em um “tipo de arte” então aprovada - dos artistas da Grande Exposição de Arte Alemã em contrapartida com os artistas reprovados que se mostravam na exposição Arte Degenerada. Vemos na história da arte bem como nos dias atuais que em todo o circuito de arte duas esferas básicas de atuação são comandadas por fluxos de aceitação e não aceitação do público (bloqueio, segundo Ronaldo Brito, crítico de arte contemporâneo): os circuitos oficiais e paralelos. De certo modo esse fluxo pode ser visto como saudável, na medida em que abre espaço para as mais divergentes correntes artísticas. Cada um tem o seu espaço, artistas amadores e profissionais, reconhecidos e emergentes, os diálogos são interpolarizados. Por outro lado, se consideramos um desses pólos como bom e o outro como ruim, gerando aprovação/desaprovação por parte do público em função de um IDEAL ESTÉTICO-POLÍTICO, estaremos muito próximos do pensamento desenfreado e patológico de Hitler. Cabe-nos desfrutar da diversidade, ampliando nosso olhar crítico, aprofundando nossa experiência humana no mundo, seja ele representado, inventado, copiado, hibridizado. Transportando nossas mentes para outras possibilidades, novas conexões ideológicas, visuais, estéticas com um único fim: aglutinação, composição, complementaridade, resumido na VIDA através das artes, ao invés da sua morte. Cabe aqui considerar então o simples fato de que uma pessoa pode articular toda uma nação a favor de seus próprios ideais; como é colocado por Cohen Hitler foi ator, diretor, cenógrafo, figurinista e protagonista de seu próprio filme.  Transpondo para o campo das artes visuais ele pode ser interpretado como artista, curador, marchand, público, museólogo e agente de ação educativa de sua obra, que aqui faço questão de destitular como artística e nomear como terrorista.
Degenerado foi na verdade, o pensamento nazista, que defendeu um tipo específico de produção em artes, estendendo-se a um tipo específico de viver e ser, sobrepondo-se hierarquicamente a outros, o que sabemos que é uma ilusão e um grande erro no que se refere à cultura em geral. Isso é conhecido hoje como xenofobia, preconceito, racismo, ignorância. Compreendemos através de várias correntes de pensamento crítico em arte ou mesmo recorrendo aos princípios básicos de uma constituição que garante a liberdade de expressão de cada indivíduo na sociedade, a imagem híbrida de um panorama cultural diverso, móvel e rico, justamente pelas suas divergências, tendências, escolas. Considerar como fez Hitler, um tipo de arte ou um tipo de comportamento superior a outro qualquer, trata-se no fundo de um enorme desprezo pela informação e pelo conhecimento do OUTRO, valorizando apenas o conhecimento próprio do EU. Poderíamos ainda traçar uma crítica ao fenômeno estético nazista introjetado do ponto de vista psicológico, que se deu pelo egocentrismo do ator principal contaminando as pessoas ao seu redor e dissipando-se por ondas gasométricas. Do mesmo modo se justificam os posicionamentos racistas e anti-humanos em outras esferas de discussões acerca do tema da expressão humana ligadas à arte e à tecnologia, na sociedade. Dispersos e descompromissados com a linha tênue entre a propaganda política e a arte (design) podemos nos encontrar em um estado de alienação perante a realidade fluida e permeável das possibilidades de existência humana na Terra.
Quais são as propagandas/ fontes de informações atuais que seguem os princípios de uma ideologia alienante e massacrante da liberdade humana? Conseguiremos nomeá-las hoje? Precisaremos do distanciamento histórico-temporal para percebê-las?!