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segunda-feira, 27 de julho de 2009

christo javacheff ++++ leitura de imagens







Leitura de imagens e cultura visual:
desenredando conceitos para a
prática educativa*
Image reading and critical understanding of
the visual culture: unraveling concepts
Maria Emilia Sardelich **

RESUMO
Quase tudo do pouco que conhecemos, em relação ao conhecimento produzido,
nos chega pelos meios de informação e comunicação. Estes, por sua
vez, também constroem imagens do mundo. Imagens para deleitar, entreter,
vender, com mensagens sobre o que devemos vestir, comer, aparentar, pensar.
Em nossa sociedade contemporânea discute-se a necessidade de uma
alfabetização visual que se expressa em várias designações como: leitura
de imagens e compreensão crítica da cultura visual. Freqüentes mudanças
de expressões e conceitos difi cultam o entendimento dessas propostas
para o currículo escolar, a defi nição do/a professor/a responsável por tal
conhecimento e o referencial teórico do mesmo. Este artigo apresenta os
conceitos que fundamentam as propostas da leitura de imagens e cultura
visual, sinalizando suas proximidades e distâncias. Contrasta alguns referenciais
teóricos da antropologia, arte, educação, história, sociologia, e
sugere linhas de trabalho em ambientes de aprendizagem com o intuito de
refl etir sobre nossa permanente formação como docentes.
Palavras-chave: leitura; leitura de imagens; artefato visual; cultura visual.


Introdução
Na vida contemporânea, quase tudo do pouco que conhecemos, em
relação ao conhecimento produzido, nos chega via Tecnologias da Informação
e Comunicação (TICs) que, por sua vez, constroem imagens do mundo.
Nômades em nossas próprias casas, capturamos imagens, muitas vezes, sem
modelo, sem fundo, cópias de cópias, no cruzamento de inúmeras signifi cações.
Imagens para deleitar, entreter, vender, que nos dizem sobre o que vestir,
comer, aparentar, pensar.
O crescente interesse pelo visual tem levado historiadoras/es, antropólogas/
os, sociólogas/os e educadoras/es a discutirem sobre as imagens e
a necessidade de uma alfabetização visual, que se expressa em diferentes
designações, entre outras as de leitura de imagens e cultura visual. Podemos
nos perguntar sobre o porquê de uma “cultura” visual? Essa cultura exclui o
não-visual e ou aqueles privados desse sentido? A proposta da cultura visual
é a mesma da leitura de imagens? Podemos utilizar as duas expressões como
sinônimos? Que professor/a pode desenvolver essas atividades no contexto
escolar? A cultura visual não será mais uma, entre tantas outras expressões,
para confundir as/os professoras/es?
Fabris (1998) nos auxilia a compreender o interesse pelo visual no mundo
SARDELICH, M. E. Leitura de imagens e cultura visual...
Educar, Curitiba, n. 27, p. 203-219, 2006. Editora UFPR 205
contemporâneo. A autora oberva que a imagem especular, própria do Renascimento,
não é, apenas, resultado de uma ação artística, mas sim fruto de um
cruzamento entre arte e ciência. A perspectiva é bem mais do que a aplicação
de leis geométricas e matemáticas, ela é um modelo de organização e racionalização
de um espaço hierárquico. É a possibilidade de estruturar o espaço
a partir de um determinado ponto de vista, aquele de um sujeito onisciente,
capaz de tudo dominar e determinar. Esta autora destaca que o lapso de tempo
no qual o artista do Renascimento organizava uma nova visualidade coincide
com o desenvolvimento da imprensa, com um novo modo de armazenar e
distribuir um conhecimento interessado na preservação do passado e na difusão
do presente. Esse período buscava um novo estilo cognitivo baseado na
demonstração visual. As imagens com perspectiva tentavam tornar o mundo
compreensível à poderosa fi gura que permanecia em pé, no centro da imagem,
no único ponto a partir do qual era desenhada. Esse estilo cognitivo se estendeu
até a fotografi a e a vídeo eletrônica, mas como as tecnologias disponíveis no
mundo contemporâneo redefi nem os conceitos de espaço, tempo, memória,
produção e distribuição do conhecimento, estamos em um momento que busca
uma outra epistemologia e se necessitamos de outro modo de pensamento,
conseqüentemente também necessitamos de outra visualidade.
Assim sendo, neste artigo proponho desenredarmos os conceitos de
leitura de imagens e cultura visual ao sinalizar suas proximidades e distâncias
para a prática educativa. Por meio do contraste entre referenciais teóricos da
antropologia, arte, educação, história e sociologia, sugiro linhas de trabalho
em ambientes de aprendizagem com o intuito de colaborar para a refl exão que
envolve a nossa permanente formação como docentes.