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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Exposição de Gravuras do acervo do Muna



Marcelo Grassmann (São Simão-SP,1925). Gravador, desenhista, ilustrador, professor. Estudou fundição, mecânica e entalhe em madeira na Escola Profissional Masculina do Brás, em São Paulo, em 1939-42. Passou a realizar xilogravuras a partir de 1943. Atuou como ilustrador do Suplemento Literário do Diário de São Paulo, entre 1947-8, e do jornal O Estado de S. Paulo, em 1948. Reside no Rio de Janeiro a partir de 1949, atuou como ilustrador do Jornal do Estado da Guanabara. Freqüentou, no Liceu de Artes e Ofícios, os cursos de gravura em metal, com Henrique Oswald , e de litografia, com Poty. Em 1952, muda-se para Salvador, onde trabalhou com Mario Cravo Júnior. Recebeu, em 1953, o prêmio de viagem ao exterior do Salão Nacional de Arte Moderna - SNAM. O artista dedica-se principalmente ao desenho, à litografia e à gravura em metal. Em 1969, sua obra completa foi adquirida pelo governo do Estado de São Paulo, passando a integrar o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo - Pesp. Em 1978, a casa em que nasceu, em São Simão, foi transformada em museu, por iniciativa da Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia de São Paulo, e tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo - Condephaat no mesmo ano. Entre 1991 e 1992, Grassmann foi bolsista da Fundação Vitae, em São Paulo.

O material visual em estudo pertence ao acervo do Museu Universitário de Arte – UFU que foi exposto no mês de maio/09 em coletiva de gravuristas brasileiros para comemorar novas aquisições do Muna. Antes de partir para a análise da imagem é relevante ponderar que sempre fui seduzida pelos trabalhos de Grassmann, seja através de sua expressividade plástica que marca sua obra como um todo, ou pela maneira particular de traduzir suas inquietações utilizando-se da gravura.

Reconheço certa proximidade gráfica entre a gravura e o desenho do artista na série “bestiários” e tal hibridez técnica é outro objeto de estudo que muito me interessa nas artes em geral. Em sentido estrito, o termo bestiário (do latim bestia = animal) faz referência a um gênero literário medieval, que se vale da descrição física e de comportamentos de animais, reais ou fantásticos, para a construção de fábulas de caráter moralizante. Repletos de sentidos e representados muitas vezes de forma alegórica e grotesca, de fato os animais ocupam o primeiro plano no imaginário medieval cristão: dragões, crocodilos, leões, asnos, porcos, baleias, unicórnios, aves e peixes simbolizam o mal, a imortalidade, a astúcia, o poder etc., de acordo com os atributos de cada um deles.

Na imagem de Grassmann, encontramos duas figuras imersas em um só plano de visão, de modo que o foco principal se encontra na construção expressiva das formas através de um emaranhado de linhas; não se percebe nenhum tratamento ao fundo das imagens, ficando clara então esta proposição. O personagem imaginário à direita utiliza uma roupagem que nos remete aos trajes de cavaleiros medievais (chapéu); e à esquerda vemos um animal similar à um cachorro. Ambas as figuras detém o espectador pela densidade inventiva de Grassmann muito presente, agregando elementos do universo fantástico e onírico que observamos na construção da forma humana em uma espécie de metamorfose/ transformação, bem como no olhar humanizado do cão. Convém lembrar que Marcelo sofreu influência do expressionismo alemão, quando estudou na Europa de 1953-55, porém, em seu trabalho vemos nitidamente um estilo visual muito próprio e denso com a potência de nos levar a uma aparente viagem ao inconsciente.