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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

o Estado e o empresariamento do sistema da arte - NEY VARGAS DA ROSA

O trabalho evidencia um novo modelo de gestão e funcionamento do sistema da arte no Brasil, considerando a emergência de dois novos atores e de um tipo específico de instituição cultural a partir dos anos oitenta. Nesse sentido, analisa as atuações de curadores, produtores e plataformas culturais articuladas a corporações bancárias no destino de artistas e obras no contexto da história da arte na contemporaneidade. Para tanto, focaliza a atuação do Itaú Cultural, em São Paulo, e do Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro, no período de 2000 a 2005, da qual são selecionados para entrevista um grupo de curadores, produtores culturais e artistas, além dos gestores das instituições. O objetivo do estudo é mostrar como o regime de eventos passou a vigorar no sistema, influenciado pela ação do Estado e das infra-estruturas emergentes, responsáveis pela circulação e visibilidade da produção artística.

CAP. 2 AS NOVAS REGRAS DO JOGO: O SISTEMA DA ARTE NO BRASIL

ESTE TEXTO É UMA SÍNTESE DE 2 CAPÍTULOS DA DISSERTAÇÃO "ESTRUTURAS EMERGENTES DO SISTEMA DA ARTE: INSTITUIÇÕES CULTURAIS BANCÁRIAS, PRODUTORES E CURADORES" - MESTRADO EM ARTES VISUAIS, ÊNFASE EM HISTÓRIA, TEORIA E CRÍTICA DE ARTE DA UFRGS, 2008.

ÚLTIMAS DÉCADAS. ALTERAÇÃO NO PANORAMA INSTITUCIONAL DOS BENS SIMBÓLICOS NO BRASIL. AUMENTO DE MUSEUS, CENTROS E ESPAÇOS CULTURAIS, ELENCO DE EDITAIS PARA PROGRAMAS E PROJETOS. MOVIMENTO CUJA ORIGEM NÃO ESTÁ CENTRADA APENAS NA VONTADE DE CONTRIBUIR COM O IMPULSO INTELECTUAL E O DESENVOLVIMENTO HUMANO:
  • RESULTADO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O SETOR E 
  • A MANEIRA COMO O SISTEMA ECONÔMICO VIGENTE ASSUME O MODUS OPERANDI DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA
Modus operandi (plural: modi operandi) é uma expressão em latim que significa "modo de operação". Utilizada para designar uma maneira de agir, operar ou executar uma atividade seguindo sempre os mesmos procedimentos.Esses procedimentos são como se fossem códigos.

O SURGIMENTO DAS LEIS DE INCENTIVO GEROU CONDICIONAMENTOS QUE SE CONFUNDEM COM POLÍTICAS PÚBLICAS. A CULTURA COMO ASSUNTO DO ESTADO PASSA DIRETAMENTE ÀS MÃOS DAS "EMPRESAS QUE DEFINEM SEU APOIO EM FUNÇÃO DE SEUS INTERESSES EMPRESARIAIS DE COMUNICAÇÃO E NÃO EM FUNÇÃO DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA". OLIVIERI, P. 149 



É COM BASE NESTA LÓGICA QUE OS ANOS 1990 PODEM SER REFERENCIADOS COMO MARCO HISTÓRICO NO CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA CULTURAL DO PAÍS.RESULTADO DA:
  • CONSOLIDAÇÃO DA ESTRUTURA BUROCRÁTICA DE FOMENTO OFERECIDA PELO APARELHO ESTATAL A QUE A SEGUNDA METADE DESSA DÉCADA ASSISTIU. 
AS OBRIGAÇÕES DO ESTADO TÊM NA LEI FEDERAL DE INCENTIVO À CULTURA (LEI ROUANET) SEU PRINCIPAL INSTRUMENTO LEGAL, SUSTENTADO CONCEITUAL E FINANCEIRAMENTE PELO MODELO DE CAPITALISMO VIGENTE.

Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991) é a lei que institui politicas públicas para a cultura nacional, como o PRONAC - Pr. Essa lei é conhecida também por Lei Rouanet (em homenagem a Sérgio Paulo Rouanet, secretário de cultura de quando a lei foi criada).
As diretrizes para a cultura nacional foram estabelecidas nos primeiros artigos, e sua base é a promoção, proteção e valorização das expressões culturais nacionais.
O grande destaque da Lei Rouanet é a politica de incentivos fiscais que possibilita as empresas (pessoas jurídicas) e cidadãos (pessoa física) aplicarem uma parte do IR (imposto de renda) devido em ações culturais.
O percentual disponível de 6% do IRPF para pessoas físicas e 4% de IRPJ para pessoas jurídicas, ainda que relativamente pequeno permitiu que em 2008 fossem investidos em cultura, segundo o MinC (Ministério da Cultura) mais de R$ 1 bilhão.
A lei surgiu para educar as empresas e cidadãos a investirem em cultura, e inicialmente daria incentivos fiscais, pois com o benefício no recolhimento do imposto a iniciativa privada se sentiria estimulada a patrocinar eventos culturais, uma vez que o patrocínio além de fomentar a cultura, valoriza a marca das empresas junto ao público.
No entanto, há críticas à lei. A crítica principal inclui a possibilidade de fundos serem desviados inapropriadamente. Críticas secundárias afirmam que o governo, ao invés de investir diretamente em cultura, começou a deixar que as próprias empresas decidissem qual forma de cultura merecia ser patrocinada Os incentivos da União (governo) à cultura somam 310 milhões de reais: R$30 milhões para a Funarte e R$280 milhões para a Lei Rouanet (porcentagem investida diretamente pela União), enquanto o incentivo fiscal deixa de adicionar aos cofres da união cerca de R$ 1 bilhão por ano (2009).

DESDE ENTÃO TEM SIDO IMPORTANTE RECURSO QUE MOBILIZA O EMPRESARIADO A INVESTIR NA ÁREA, MAS EM CONTRAPARTIDA TOMA PARA SI O PODER DECISÓRIO, REDEFININDO
  • CIRCULAÇÃO
  • LEGITIMAÇÃO 
  • VALORAÇÃO (POR QUE NÃO DIZER)
DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA E INTELECTUAL.OUTRA QUESTÃO GERADA PELO NOVO INSTRUMENTO É A FORMA CONDICIONADA DO EMPRESARIADO EM INVESTIR SOMENTE MEDIANTE ISENÇÃO FISCAL. PROJETO SEM LEI É PROJETO SEM PATROCÍNIO.ATRELAMENTO AO DISPOSITIVO LEGAL. EMPRESAS SE BENEFICIAM COM AS ESTRATÉGIAS DE PUBLICIDADE E MARKETING, QUE DIVULGAM OS EVENTOS A PARTIR DE DISCURSOS DE DEMOCRATIZAÇÃO E ACESSO A BENS SIMBÓLICOS, CONFERINDO DISTINÇÃO SOCIAL AOS SETOR EMPRESARIAL.

NA LÓGICA DO MERCADO NA ERA NEOLIBERAL, O FINANCIAMENTO DOS BANCOS PÚBLICOS E PRIVADOS EM 
  • PRESERVAÇÃO
  • PRODUÇÃO
  • DISSEMINAÇÃO
DE BENS SIMBÓLICOS EXTRAPOLA OS LIMITES DO TRADICIONAL PATROCÍNIO. VERTIGINOSO CRESCIMENTO DE PLATAFORMAS INSTITUCIONAIS MANTIDAS POR IMPORTANTES CORPORAÇÕES BANCÁRIAS. TENDÊNCIA NA PASSAGEM DOS ANOS 1970 AOS 1980, ESPECIALMENTE NA AMÉRICA LATINA NO CONTEXTO DO PATRIMÔNIO CULTURAL. (VINCULADAS AOS BANCOS CENTRAIS). SOLIDIFICAM-SE COMPONENTES NO SISTEMA DA ARTE QUE PASSAM A OBTER GRANDE DESTAQUE AO OCUPAR INSTÂNCIAS ENDOSSADAS, TAMBÉM, PELO INSTRUMENTO PÚBLICO. PRODUTORES CULTURAIS E INSTITUIÇÕES CULTURAIS BANCÁRIAS SÃO ANALISADOS AO LONGO DO TEXTO, ASSIM COMO QUESTÕES RELATIVAS ÀS ARTES VISUAIS NA LEI ROUANET. DENTRO DO PANORAMA INSTITUCIONAL,
  • ITAÚ CULTURAL (IC) EM SÃO PAULO E O
  • CENTRO CULTURAL DO BANCO DO BRASIL DO RIO DE JANEIRO (CCBB-RJ) 
APRESENTAM MODELOS QUE COLOCAM O PAÍS NUMA SITUAÇÃO SINGULAR NO FOMENTO DA CIRCULAÇÃO ARTÍSTICA. ESSAS INSTITUIÇÕES:
  • PREGAM A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO AOS BENS CULTURAIS
  • POTENCIALIZAM A CIRCULAÇÃO DE ATORES, NOVOS E CONSAGRADOS NO SISTEMA DA ARTE
ESTRUTURADAS EM DISCURSOS E PRÁTICAS QUE SE ALIAM À POSIÇÃO DEFENDIDA PELO ESTADO. CONCEITO DE SISTEMA DE ARTE (MARIA AMÉLIA BULHÕES) SERVE DE PAVIMENTO AO TEXTO. SEU CARÁTER ABRANGENTE POSSIBILITA ANALISAR DE FORMA ARTICULADA OS ACONTECIMENTOS QUE CONCORRERAM PARA O REARRANJO DO SISTEMA NO PAÍS.

*PRODUTORES CULTURAIS: OS MANAGERS DO MOMENTO

A POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL É MUITO RECENTE.COMEÇA A SE CONSOLIDAR EFETIVAMENTE DENTRO DE UM GERENCIAMENTO BUROCRÁTICO HÁ MENOS DE 2 DÉCADAS. DESCONTANDO DOS 29 ANOS DO MINC (2014) -2 ANOS DE SUA EXTINÇÃO NO GOVERNO COLLOR (ABRIL DE 1990-NOVEMBRO DE 1992). FORAM 15 MINISTROS QUE PASSARAM PELO MINISTÉRIO DA CULTURA, O QUE DIFICULTA A CONSOLIDAÇÃO DE UM PENSAMENTO POLÍTICO ACERCA DA CULTURA.

NomeInícioFimPresidente
1José Aparecido de Oliveira15 de março de 198529 de maio de 1985José Sarney
2Aluísio Pimenta30 de maio de 198513 de fevereiro de 1986
3Celso Furtado14 de fevereiro de 198628 de julho de 1988
4Hugo Napoleão do Rego Neto28 de julho de 198819 de setembro de 1988
5José Aparecido de Oliveira19 de setembro de 198814 de março de 1990
6Ipojuca Pontes[a]14 de março de 199010 de março de 1991Fernando Collor
7Sérgio Paulo Rouanet[a]10 de março de 19912 de outubro de 1992
8Antônio Houaiss2 de outubro de 19921 de setembro de 1993Itamar Franco
9Jerônimo Moscardo1 de setembro de 19939 de dezembro de 1993
10Luiz Roberto Nascimento Silva15 de dezembro de 199331 de dezembro de 1994
11Francisco Weffort1 de janeiro de 199531 de dezembro de 2002Fernando Henrique Cardoso
12Gilberto Gil1 de janeiro de 200330 de julho de 2008Luiz Inácio Lula da Silva
13Juca Ferreira30 de julho de 200831 de dezembro de 2010
14Ana de Hollanda1 de janeiro de 201113 de setembro de 2012Dilma Rousseff
15Marta Suplicy13 de setembro de 201211 de novembro de 2014
16Ana Cristina Wanzeler (interina)13 de novembro de 201431 de dezembro de 2014
17Juca Ferreira1º de janeiro de 2015
NO CONTEXTO ESPECÍFICO DO SISTEMA DA ARTE, UM NOVO ATOR, O PRODUTOR CULTURAL, SE INSTALA NA DÉCADA DE 1990 E PASSA RAPIDAMENTE A OCUPAR RELEVANTE PAPEL NAS ESFERAS DE PODER. PRESSUPOSTOS ACERCA DESTA CONSTITUIÇÃO IMPLICA VOLTAR NOS ANOS 1970 E VERIFICAR O COMPLEXO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÕES DO PERÍODO. É NECESSÁRIO ULTRAPASSAR AS FRONTEIRAS DAS ARTES VISUAIS E INCLUIR NO DEBATE AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O CONJUNTO DE BENS SIMBÓLICOS, SEJAM ELAS RESPOSTAS ÀS DEMANDAS DO SETOR OU RESULTADOS DAS INFLUÊNCIAS DA POLÍTICA ECONÔMICA. SOMANDO ÀS:

  • MUDANÇAS NA DIFUSÃO E NA LEGITIMAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA
  • PARÂMETROS DE ANÁLISE: COMPORTAMENTO DO MERCADO DE ARTE BRASILEIRO
  • REPERCUSSÃO DAS DECISÕES GOVERNAMENTAIS PARA AS ARTES VISUAIS
  • EXPANSÃO DAS PLATAFORMAS DE VISIBILIDADE DOS BENS SIMBÓLICOS
ESSES FATORES, ARTICULADOS ENTRE SI, PODEM CONTRIBUIR PARA REVELAR COMO OS PRODUTORES CULTURAIS SURGEM E CONSTROEM SUAS CARREIRAS NO CAMPO DA ARTE. SEU SURGIMENTO ESTÁ DIRETAMENTE VINCULADO AO PROCESSO NATURAL DO DESENVOLVIMENTO ARTÍSTICO. SUA ORIGEM TAMBÉM ESTÁ NAS NECESSIDADES DA PRÓPRIA SOCIEDADE DE CONSUMO. ELA ELEVA A MERCADORIA A IMPERATIVO CATEGÓRICO QUE REGE AS DINÂMICAS QUE ORIENTAM AS RELAÇÕES SOCIAIS.

  

EM A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO, OBRA EMBLEMÁTICA DE GUY DEBORD. REFLETE SOBRE O CENÁRIO DE ESPETACULARIZAÇÃO DA VIDA NO FINAL DOS ANOS 1960, PROPÕE UMA TEORIA SOBRE O VALOR DA MERCADORIA NA SOCIEDADE DE CONSUMO. NO MUNDO DA MERCADORIA, A INDUSTRIALIZAÇÃO AUTOMATIZA O TRABALHO PARA AUMENTAR A PRODUÇÃO E DIMINUI A PARTICIPAÇÃO DO TRABALHADOR NA ESCALA SOCIAL. PARA MANTER O TRABALHO COMO MERCADORIA E INSTÂNCIA DE SUA CRIAÇÃO, NOVOS EMPREGOS DEVEM SER CRIADOS. O SETOR DE SERVIÇOS RESPONDE PELA DISTRIBUIÇÃO E A PROMOÇÃO DAS MERCADORIAS, QUE SÃO GERADAS PELA "PRÓPRIA ARTIFICIALIDADE DAS NECESSIDADES RELACIONADAS A TAIS MERCADORIAS" (DEBORD, 1997, P.32)


JÁ ANNE CAUQUELIN APONTA QUE "EM TODA SOCIEDADE DE CONSUMO, O NÚMERO DE INTERMEDIÁRIOS AUMENTA E É ACOMPANHADO DA FORMAÇÃO DE UM CÍRCULO DE PROFISSIONAIS, VERDADEIROS MANAGERS" (CAUQUELIN, 2005, P.55). AO BUSCAR NESSAS REFLEXÕES POSSIBILIDADES DE RELACIONÁ-LAS COM O CONTEXTO DA REALIDADE BRASILEIRA, É POSSÍVEL ENCONTRAR A CONSTITUIÇÃO OFICIAL DE UM SEGMENTO DE PROFISSIONAIS LIGADOS À PRODUÇÃO NO EMERGENTE SEGMENTO CULTURAL. SÃO RESPONSÁVEIS PELA ARTICULAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA - OS MANAGERS DAS ATIVIDADES CULTURAIS - DOS QUAIS ALGUNS CONVERTEM A CRIAÇÃO ARTÍSTICA EM MERCADORIA DE ENTRETENIMENTO NOS NOVOS ESPAÇOS ORIENTADOS PELA LÓGICA DO MERCADO. É INTEGRANDO O SETOR DE SERVIÇOS QUE O PROFISSIONAL DE PRODUÇÃO CULTURAL VAI EMERGIR NOS ANOS 1970, PERÍODO EM QUE É INSERIDO NA ESTRUTURA DO SISTEMA TRABALHISTA EM FACE DE REIVINDICAÇÕES DE UMA PARTE DA CATEGORIA ENVOLVIDA COM A ÁREA. ENQUADRAMENTO VIA DECRETO-LEI N° 82.385 DE 5/OUT/1978 QUE VEIO PARA REGULAMENTAR A LEI N° 6.533 DE 24/MAIO/1978 ASSINADA PELO PRESIDENTE ERNESTO GEISEL, QUE DISPÕE SOBRE AS ATRIBUIÇÕES DO TÉCNICO EM ESPETÁCULOS DE DIVERSÕES.

link da lei: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/D82385.htm

TAL DOCUMENTO É CITADO POR SER UM INSTRUMENTO LEGAL PUBLICADO PELO ESTADO NO SENTIDO DE REGULAMENTAR A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE PRODUÇÃO. É DE EXTREMO VALOR NA REFLEXÃO POR SER A ORIGEM DO PRODUTOR CULTURAL ATUANTE NA ÁREA DOS ESPETÁCULOS E DOS EVENTOS, NO QUAL AS EXPOSIÇÕES DE ARTE CONTEMPORÂNEA VÃO SE INSCREVER GRADATIVAMENTE. PERÍODO DE UMA NOVA REALIDADE ECONÔMICA OS ANOS 1970 OFERECEM CONDIÇÕES QUE IMPULSIONAM A PRODUÇÃO ARTÍSTICA E FAZEM DO DECRETO CITADO UM DOS SINTOMAS DA NOVA PERSPECTIVA PARA ONDE SE DIRECIONARÁ O MERCADO CULTURAL BRASILEIRO NAS DÉCADAS SEGUINTES. CADA VEZ MAIS AS DIFERENTES FORMAS DA CRIAÇÃO ARTÍSTICA RECEBEM VISIBILIDADE EM DISPOSITIVOS DE AMPLA ABRANGÊNCIA E CIRCULAÇÃO, COMO OS EVENTOS CULTURAIS DE GRANDE PORTE QUE PASSAM A SER ROTINEIROS NA ATUALIDADE. O PRODUTOR CULTURAL É UMA DAS PEÇAS-CHAVE NA REDEFINIÇÃO DO ESTATUTO DOS BENS SIMBÓLICOS, CUJO CARÁTER DE ESPETACULARIZAÇÃO VAI SER INCORPORADO ÀS MANIFESTAÇÕES DAS ARTES VISUAIS, TAL COMO PODE SER VISTO EM MEGAEVENTOS QUE OCUPAM AS AGENDAS DE DIFERENTES ESPAÇOS CULTURAIS.EM RELAÇÃO À ARTE CONTEMPORÂNEA, O PRODUTOR CULTURAL ESTÁ IMPLICADO COM A VALORAÇÃO DO OBJETO ARTÍSTICO MAIS COMO

  • PRODUTO DE EVENTO DO QUE
  • DE VENDA EM AMBIENTES COMERCIAIS
ASSUNTO DEBATIDO COM MAIS PROFUNDIDADE POR BRUNA FETTER NO ÚLTIMO CAPÍTULO. COMO SE DÁ O EMPRESARIAMENTO DAS ARTES VISUAIS? COMO ATUA O PRODUTOR ENQUANTO AGENCIADOR DE EVENTOS?
  • DESTACAR A EVOLUÇÃO DO MERCADO DE ARTE E SUA INSERÇÃO NO CAMPO DE PRODUÇÃO CULTURAL.
*POSSÍVEIS CAMPOS DE FORMAÇÃO DO PRODUTOR CULTURAL.

IMPORTANTE ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA DE ARTE COMO PARTE DO PROCESSO DE CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA CULTURAL NO BRASIL (ANOS 1970 E 1980)  - TESE DE MARIA AMÉLIA BULHÕES. QUESTÕES RELATIVAS AO CONTEXTO PROFISSIONAL DA ÉPOCA.


"OCORREU ASSIM A PROFISSIONALIZAÇÃO DO QUE HOWARD BECKER DENOMINA PESSOAL DE APOIO, ESTRUTURANDO-SE AS CADEIAS DE ATIVIDADES QUE CARACTERIZAM AS AÇÕES ARTÍSTICAS DE CONSUMO. EM TERMOS DE MÚSICA E TEATRO APARECEM EMPRESAS DE PRODUÇÃO DE ESPETÁCULOS, ESTRUTURADAS DE MANEIRA A FAZER DESTAS ARTES ATIVIDADES LUCRATIVAS. TODO UM SISTEMA DE EDITORAÇÃO PASSA A COORDENAR O SETOR DA LITERATURA, DEFININDO OS RUMOS DA PRODUÇÃO. ESTAS EMPRESAS, ESTRUTURADAS NOS MAIS MODERNOS MÉTODOS ADMINISTRATIVOS, CRIAM NOVAS CONDIÇÕES DE DIFUSÃO DAS ARTES, CARACTERIZADAS PELOS ESTREITOS LAÇOS COM OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSAS." (BULHÕES, 1990, P.88)

A MESMA TENSÃO QUE PRODUZIU RESULTADOS POLÍTICOS, NÃO ENCONTROU ECO JUNTO AOS PROFISSIONAIS QUE TRABALHAVAM COM A PRODUÇÃO PLÁSTICA. O TEOR DO DECRETO-LEI (82.385/1978) FICA CIRCUNSCRITO AO UNIVERSO DOS ESPETÁCULOS CÊNICOS E MUSICAIS, NADA TENDO A CONTRIBUIR COM AS ESPECIFICIDADES QUE CONDICIONAM A CIRCULAÇÃO DAS ARTES VISUAIS. PRÓPRIA NOMENCLATURA DO DOCUMENTO. FATORES QUE PODEM EXPLICAR UMA POSSÍVEL FALTA DE MOBILIZAÇÃO DOS ENVOLVIDOS COM AS ARTES VISUAIS NO PROCESSO DE CONQUISTAS POLÍTICAS:

  • CONSTITUIÇÃO DO MERCADO DE ARTE
  • ENTRE 1960 E 1970 RESULTADOS DE UMA MODERNIZAÇÃO (CONSERVADORA) DA POLÍTICA CULTURAL DO REGIME MILITAR
  • VIGOROSO PROJETO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO PAÍS
NESSE CONTEXTO: CONDIÇÕES PARA CONSOLIDAÇÃO DA INDÚSTRIA CULTURAL MASSIVA, AMBIENTE EM QUE AS ARTES VISUAIS PERMANECERAM MENOS INSERIDAS, EM COMPARAÇÃO COM OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS. SUA DIFÍCIL INTEGRAÇÃO EM CIRCUITOS DE AMPLA DISTRIBUIÇÃO: MÚSICA, CINEMA COMERCIAL, PRODUÇÃO TELEVISIVA. OUTRO ASPECTO: PROFISSIONALIZAÇÃO DA ÁREA. A ORGANIZAÇÃO DOS EVENTOS DAS ARTES VISUAIS FICAVA A ENCARGO DOS PRÓPRIOS ARTISTAS E MARCHANDS. NA ÉPOCA INEXISTIAM AS FIGURAS, ENTRE TANTAS OUTRAS, IMPRESCINDÍVEIS PARA A REALIZAÇÃO DE UM EVENTO DESSA NATUREZA ATUALMENTE:
  • CURADOR
  • MUSEÓGRAFO
  • PROGRAMADOR VISUAL
  • MONTADOR
  • EMBALADOR
  • TRANSPORTADOR
  • PRODUTOR CULTURAL
EXEMPLO: BIENAL DE SÃO PAULO, SE UTILIZOU DE ESTUDANTES E ARTISTAS, BEM COMO DAS DAMAS VOLUNTÁRIAS, PARA O DESEMPENHO DESSAS FUNÇÕES SEM NENHUMA ESPÉCIE DE REMUNERAÇÃO.