Visualizações do blog

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Introdução parte 1 - Sergio Miceli (leitura sistematizada)

CRÍTICAS DE BOURDIEU À HERMENÊUTICA ESTRUTURALISTA. NÃO CHEGA À POSIÇÃO EXTREMA DE LÉVI-STRAUSS NO TOCANTE À POSTURA KURKHEIMIANA, A NOÇÃO QUE ENXERGA OS SISTEMAS SIMBÓLICOS ENQUANTO ESTRUTURAS ESTRUTURADAS, LIGA-SE À NOÇÃO DE FORMA PRIMITIVA DE CLASSIFICAÇÃO
  • CLASSIFICAÇÃO = TERMOS DE UMA OPERAÇÃO LÓGICA QUE CONSISTE EM HIERARQUIZAR AS COISAS DO MUNDO SENSÍVEL EM GRUPOS E GÊNEROS CUJA DELIMITAÇÃO APRESENTA UM CARÁTER ARBITRÁRIO. 
  • HIERARQUIA = ENTRE AS COISAS AGRUPADAS NUMA DADA CLASSE, TEM MUITO MAIS O SENTIDO DE UMA ORDEM CUJOS FUNDAMENTOS DEVEM SER BUSCADOS FORA DO SISTEMA CLASSIFICATÓRIO.
SEGUNDO DURKHEIM, A CLASSIFICAÇÃO DAS COISAS REPRODUZ A CLASSIFICAÇÃO DOS HOMENS. A ORGANIZAÇÃO SOCIAL CONSTITUI A BASE E O FUNDAMENTO ÚLTIMO DO SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DAS COISAS. JÁ TRANSPARECE UMA DIVERGÊNCIA DE PESO. PARA O FUNDADOR O SISTEMA CLASSIFICATÓRIO NÃO DEVE SER CONSIDERADO À MANEIRA DE UM SISTEMA SIMBÓLICO QUE TRANSFIGURA E DISSIMULA AS RELAÇÕES REAIS QUE SE DÃO ENTRE OS HOMENS,GUARDANDO COM O SISTEMA SOCIAL UMA RELAÇÃO DE ÍNTIMA CORRESPONDÊNCIA. PARA DURKHEIM, O SISTEMA LÓGICO REPRODUZ DE PERTO O SISTEMA SOCIAL - REPRODUÇÃO FIEL COM LÉXICOS [DICIONÁRIO DE LÍNGUAS CLÁSSICAS ANTIGAS, RELATIVO À VOCABULÁRIO] PRÓPRIOS MAS TENDO UM MESMO REFERENTE: AS RELAÇÕES DE EXCLUSÃO/ INCLUSÃO, DISTÂNCIA/PROXIMIDADE, ASSOCIAÇÃO/DISSOCIAÇÃO QUE INFORMAM A HIERARQUIA ENTRE AS DIVERSAS CLASSES DE SERES. RECOBREM O ARCABOUÇO DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL REPARTIDA EM FATIAS, CLÃS E OUTROS AGRUPAMENTOS MENORES QUE RESULTAM DE PROCESSOS DE SEGMENTAÇÃO

IDEIA DE QUE "TODA CLASSIFICAÇÃO IMPLICA UMA ORDEM HIERÁRQUICA" JÁ SE FAZ PRESENTE EM DURKHEIM E É NESSE SENTIDO QUE SE DEVE ENTENDER A AFIRMAÇÃO DE BOURDIEU: "A CULTURA CLASSIFICA E CLASSIFICA OS CLASSIFICADORES (...) ESTABELECE UMA OPOSIÇÃO ENTRE AS COISAS CONSIDERADAS COMO OBJETOS DIGNOS DE SEREM PENSADOS (...) E AQUELAS CONSIDERADAS INDIGNAS DA CONVERSAÇÃO E DO PENSAMENTO, O IMPENSÁVEL OU INDIGNO DE SER MENCIONADO."

AO INVÉS DE ENTENDER O SISTEMA SIMBÓLICO COMO A REPRESENTAÇÃO ALEGÓRICA DO MUNDO NATURAL E SOCIAL DIVIDIDO EM TERMOS DE CLASSES ANTAGÔNICAS, E CUMPRINDO SUA FUNÇÃO POLÍTICO-IDEOLÓGICA DE LEGITIMAR UMA ORDEM ARBITRÁRIA, DURKHEIM AFIRMA QUE O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO CONFIGURA UMA ORDEM LÓGICA QUE RECOBRE A ORDEM SOCIAL (E RECOBRE NO SENTIDO LITERAL DE REVESTIR) IMPONDO-SE SOBRE O AGENTE E REGULANDO NÃO APENAS A APROPRIAÇÃO DOS SÍMBOLOS MAS TAMBÉM FORNECENDO AS REGRAS E OS MATERIAIS SIGNIFICANTES COM QUE OS GRUPOS DÃO SENTIDO ÀS SUAS PRÁTICAS. OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO CONSTITUEM REPRESENTAÇÕES COLETIVAS CUJAS DIVISÕES INTERNAS REMETEM ÀS DIVISÕES MORFOLÓGICAS DO GRUPO COMO UM TODO. 
  • A ORGANIZAÇÃO SOCIAL EFETIVA É AQUELA QUE O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO SUGERE
  • OU A CULTURA NESSAS SOCIEDADES NÃO CONSTITUI PROPRIAMENTE UM SISTEMA SIMBÓLICO.
O ESFORÇO DE DURKHEIM EM ENCONTRAR OS FUNDAMENTOS SOCIAIS DO SIMBOLISMO NÃO SE COMPLETA PORQUE, VIA DE REGRA, REFERE UM SISTEMA CLASSIFICATÓRIO A UM OUTRO COM A DIFERENÇA DE QUE ESTE ÚLTIMO NOMEIA MAIS DE PERTO O QUE OS AGENTES RECONHECEM COMO SENDO SEU SISTEMA SOCIAL VIVIDO. A CULTURA RESTRINGE-SE ENTÃO À SUA FUNÇÃO DE INTEGRAÇÃO LÓGICA E MORAL REPRODUZINDO, COM MATERIAIS SIGNIFICANTES PRÓPRIOS, A CLASSIFICAÇÃO SOCIAL QUE REPARTE OS HOMENS PELA HIERARQUIA. A SOCIEDADE-SUJEITO CONSTITUI, O FUNDO COMUM QUE ARTICULA O SISTEMA SOCIAL E O SISTEMA LÓGICO. TANTO PELA FUNÇÃO QUE LHE ATRIBUI COMO PELA TEORIA DO CONSENSO AÍ IMPLICADA, DURKHEIM ELIMINA A PROBLEMÁTICA DA DOMINAÇÃO. PARA BOURDIEU, A ORGANIZAÇÃO DO MUNDO E A FIXAÇÃO DE UM CONSENSO E SEU RESPEITO CONSTITUI UMA FUNÇÃO LÓGICA NECESSÁRIA QUE PERMITE À CULTURA DOMINANTE UMA DADA FORMAÇÃO SOCIAL CUMPRIR SUA FUNÇÃO POLÍTICO-IDEOLÓGICA DE LEGITIMAR E SANCIONAR UM DETERMINADO REGIME DE DOMINAÇÃO. O CONSENSO TORNOU-SE A ILUSÃO PRIMEIRA A QUE CONDUZ QUALQUER SISTEMA DE REGRAS CAPAZES DE ORDENAR OS MATERIAIS SIGNIFICANTES DE UM SISTEMA SIMBÓLICO. EM DURKHEIM, A FUNDAMENTAÇÃO EMPÍRICA DA TEORIA DO CONSENSO SE PREOCUPA EM MOSTRAR QUE AS DIVISÕES INTERNAS POR QUE PASSAM OS DIVERSOS GRUPOS SÃO RECUPERADAS NUMA SITUAÇÃO DE EQUILÍBRIO. A DIVERSIDADE DAS REGRAS E DOS SIGNIFICADOS NÃO AMEAÇA A IMAGEM MAIS ALTA DO GRUPO COMO UM TODO UNIFICADO. DURKHEIM FAZ QUESTÃO DE FRISAR A AUSÊNCIA DE UMA HIERARQUIA DE DOMINAÇÃO/SUBORDINAÇÃO ENTRE OS CLÃS. A RIGOR, SUA NOÇÃO DE HIERARQUIA POSSUI O SENTIDO DE UMA ORDEM LÓGICA IMPOSTA ÀS DIVISÕES POR QUE PASSA O MUNDO SENSÍVEL EM SUAS DIVERSAS ESPÉCIES E GÊNEROS.

OUTRO PONTO REELABORADO POR BOURDIEU DIZ RESPEITO ÀS REPRESENTAÇÕES INDIVIDUAIS. MENÇÃO ÀS REPRESENTAÇÕES QUE O AGENTE POSSUI ACERCA DAS RELAÇÕES QUE OS GRUPOS DE COISAS ASSIM CLASSIFICADAS MANTÊM UNS COM OS OUTROS. EM ALGUNS CASOS, O AGENTE AS CONCEBE SOB A FORMA DE RELAÇÕES DE PARENTESCO CUJO QUADRO DE REFERÊNCIA É O PRÓPRIO INDIVÍDUO. AS VEZES, TAIS RELAÇÕES SÃO PENSADAS SOB A FORMA DE POSSUIDORES E POSSUÍDOS. LOGO, NO PLANO DAS REPRESENTAÇÕES INDIVIDUAIS OS AGENTES PODEM VIVER OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO SOB A FORMA DE RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO. DURKHEIM TRANSFERE A QUESTÃO DA POSSE E DA PROPRIEDADE AO PLANO DO SISTEMA DE FATOS, TORNA-SE UM ITEM DO PRÓPRIO SISTEMA CLASSIFICATÓRIO. UM TERCEIRO TIPO DE REPRESENTAÇÃO SERIA AQUELE EM QUE O AGENTE DESENVOLVE UMA EXPERIÊNCIA DA HIERARQUIA DAS COISAS NUMA ORDEM EXATAMENTE INVERSA, OU SEJA, SÃO AS MAIS DISTANTES QUE CONSIDERA COMO SENDO AS MAIS IMPORTANTES.SE PUDESSE ENTENDER ESTE CASO SEGUNDO UM MODELO SEMELHANTE AO ESQUEMA WEBERIANO DA LEGITIMIDADE, NÃO FOSSE A SENTENÇA DE QUE "NA VERDADE, AS COISAS MAIS ESSENCIAIS AO INDIVÍDUO NÃO SÃO AS MAIS PRÓXIMAS A ELE, AS QUE SE REFEREM DE MODO MAIS IMEDIATO A SUA PESSOA INDIVIDUAL, UMA VEZ QUE A ESSÊNCIA DO HOMEM É A HUMANIDADE." COMO O TEXTO NÃO OFERECE REFERÊNCIAS EMPÍRICAS A RESPEITO DAS CONDIÇÕES ECONÔMICAS E POLÍTICAS, TORNA-SE IMPOSSÍVEL VERIFICAR EM QUE MEDIDA O SISTEMA CLASSIFICATÓRIO CUMPRE FUNÇÕES NÃO-LÓGICAS, ISTO É, PROPRIAMENTE POLÍTICAS. NÃO HAVENDO UMA DEFINIÇÃO RIGOROSA E EXAUSTIVA DO QUE ENTENDE POR ORGANIZAÇÃO SOCIAL, TUDO SE PASSA COMO SE DURKHEIM TIVESSE A PREOCUPAÇÃO DE ENTENDER O SISTEMA CLASSIFICATÓRIO EM TERMOS DE UMA REPARTIÇÃO DE SÍMBOLOS QUE PROPICIAM UMA IDENTIDADE NO INTERIOR DO GRUPO, NUM ESTÁGIO DE CIVILIZAÇÃO MUITO PRESO A UMA CARGA AFETIVA E MORAL. DIVERSAMENTE DE LÉVI-STRAUSS, LIDA COM OS DOIS SISTEMAS A QUE CORRESPONDEM DOIS MODELOS SOBRE AS INÚMERAS AMBIGÜIDADES E OMISSÕES DO TEXTO. SE PUDESSE ENTENDER A PROPOSTA DE ANÁLISE DURKHEIMIANA DE OUTRO MODO; COM EFEITO CONSEGUE SUBLINHAR A UNIDADE PROFUNDA QUE PERMEIA TODOS OS SISTEMAS SIMBÓLICOS DE UMA DETERMINADA FORMAÇÃO, ISTO É, O CONJUNTO DOS APARELHOS DE PRODUÇÃO SIMBÓLICA QUE CONSTITUEM A CULTURA OBEDECE A UM MESMO PRINCÍPIO DIVISÓRIO, A UMA MESMA LÓGICA.DE OUTRO LADO, NÃO HAVERIA COMO DURKHEIM PRETENDE, UMA CORRELAÇÃO ENTRE AMBOS OS SISTEMAS, MAS TÃO SOMENTE UMA DUPLICAÇÃO, UMA EXTENSÃO REDUNDANTE ATRAVÉS DA QUAL SOMOS INFORMADOS DE QUE MANEIRA AS RELAÇÕES DE PARENTESCOS ENTRE OS TOTENS REPRODUZ A LÓGICA DAS RELAÇÕES ENTRE OS CLÃS. O SISTEMA CLASSIFICATÓRIO APARECE COMO O PRODUTO DE UM PENSAMENTO COLETIVO E CAPAZ DE CONFERIR ÀS PRÁTICAS UM CONTEÚDO DERIVADO DO SISTEMA. A NATUREZA É PARTILHADA ENTRE OS DEUSES DO PANTEÃO ASSIM COMO O UNIVERSO É REPARTIDO ENTRE OS CLÃS. NESTE MOVIMENTO, O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO PODE ALCANÇAR MARGEM ELEVADA DE AUTONOMIA POIS, MUITAS VEZES, OBEDECE A UM RITMO SINGULAR INFENSO [EM OPOSIÇÃO] ÀS MUDANÇAS NO PLANO DA ORGANIZAÇÃO DO SOCIAL. NESTE PONTO O PROJETO HEURÍSTICO DE DURKHEIM SURGE EM SUA GRANDEZA E, POR QUE NÃO, EM SUA MISÉRIA. A ANÁLISE DOS SISTEMAS CLASSIFICATÓRIOS COLOCA-SE COMO O ESTUDO DE UMA ETAPA ANTERIOR DAS PRIMEIRAS CLASSIFICAÇÕES CIENTÍFICAS, AINDA QUE OS SISTEMAS ARCAICO E CIENTÍFICO GUARDEM INÚMEROS TRAÇOS COMUNS:
  • TRATA-SE DE SISTEMAS DE NOÇÕES HIERARQUIZADAS ONDE AS COISAS DISPOSTAS EM GRUPOS MANTÊM ENTRE SI RELAÇÕES BEM DEFINIDAS CUJO CONJUNTO COMPÕE UM ÚNICO TODO.
  • AMBOS CONSTITUEM UM INSTRUMENTO DE CONHECIMENTO E COMUNICAÇÃO PELO QUAL A SOCIEDADE CONFERE UM SENTIDO UNITÁRIO AO UNIVERSO, OU SEJA, FAZEM COMPREENDER E TORNAM INTELIGÍVEIS AS RELAÇÕES QUE EXISTEM ENTRE OS SERES.
  • AMBOS DEPENDEM DE CONDIÇÕES SOCIAIS, POIS, NA VERDADE, SÃO AS RELAÇÕES SOCIAIS ENTRE OS HOMENS QUE SERVIRAM DE BASE E MODELO PARA AS RELAÇÕES LÓGICAS ENTRE AS COISAS. 
SE DEVE ENTENDER O CONCEITO DE RELAÇÕES SOCIAIS NO SENTIDO AMBÍGUO E INDETERMINADO JÁ REFERIDO. OS HOMENS NÃO CLASSIFICAM OS SERES VISANDO ENCOBRIR OU JUSTIFICAR AS RELAÇÕES QUE MANTÊM ENTRE SI. OS HOMENS CLASSIFICAM OS SERES POR UMA NECESSIDADE LÓGICA QUE TAMBÉM OS LEVA A PENSAR EM SUA EXISTÊNCIA EM TERMOS DE GRUPAMENTOS E DIVISÕES. TODAVIA, SE A TOTALIDADE DAS COISAS É CONCEBIDA COMO UM SISTEMA UNO, É PORQUE A PRÓPRIA SOCIEDADE É CONCEBIDA DA MESMA MANEIRA. ELA É UM TODO, OU MELHOR, ELA É O TODO ÚNICO EM RELAÇÃO AO QUAL TUDO ESTÁ REFERIDO. EMBORA OS LIAMES [VÍNCULOS] LÓGICOS POSSAM ASSUMIR O SENTIDO DAS RELAÇÕES DOMÉSTICAS, FAMILIARES, EMBORA POSSAM SURGIR COMO RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO/SUBORDINAÇÃO ECONÔMICA OU POLÍTICA, CONSTITUEM SEMPRE ESTADOS DA ALMA COLETIVA. 
A CLASSIFICAÇÃO LÓGICA É UMA FORMA PRIMITIVA DE UMA ORDENAÇÃO DO UNIVERSO ATRAVÉS DE CONCEITOS, MAS JÁ CONSTITUIU UM ESTÁGIO MAIS COMPLEXO DO QUE O ESTÁGIO PURAMENTE AFETIVO. A FORMA PRIMITIVA DE CLASSIFICAÇÃO SE COLOCA NO MESMO PLANO DO CONCEITO E, JUNTO COM ELE, SE OPÕE À EMOÇÃO. A CLASSIFICAÇÃO NÃO PASSA DE UMA CATEGORIA DO ENTENDIMENTO E A HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO CIENTÍFICA NÃO É SENÃO A HISTÓRIA DAS ETAPAS NO CURSO DAS QUAIS SE DEU O ENFRAQUECIMENTO PROGRESSIVO DO ELEMENTO AFETIVIDADE EM FAVOR DAS CATEGORIAS PRÓPRIAS DO ENTENDIMENTO. NATURALMENTE O ÚLTIMO ALVO DE DURKHEIM É  FUNDAMENTAR EMPIRICAMENTE AS CATEGORIAS A PRIORI DO ENTENDIMENTO HUMANO SEGUNDO O PROGRAMA DA FILOSOFIA KANTIANA. A DESPEITO [HUMILHAÇÃO, DESFEITA] DE TODAS AS DIFERENÇAS NA ABORDAGEM, BOURDIEU RETÉM A IDEIA CENTRAL DO TEXTO, A SABER, A ORGANIZAÇÃO INTERNA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO OBEDECE A UM MODELO FORNECIDO PELA SOCIEDADE. E AINDA QUE NÃO CONCEDA O MESMO GRAU DE AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA A TAIS SISTEMAS, ACOLHE O ENFOQUE DOS SISTEMAS SIMBÓLICOS COMO SE FOSSEM LINGUAGENS DOTADAS DE UMA LÓGICA PRÓPRIA. A TRADIÇÃO SOCIOLÓGICA FRANCESA ENCARA O FATO SOCIAL COMO COISA E REPRESENTAÇÃO, POR ISSO TRATA-SE DE UMA INDAGAÇÃO OCIOSA SABER SE SÃO AS IDEIAS QUE DERAM ORIGEM ÀS SOCIEDADES OU SE FORAM ESTAS QUE DERAM EXISTÊNCIA ÀS REPRESENTAÇÕES.BOURDIEU RECUSA-SE A TORNAR O AGENTE SOCIAL MERO SUPORTE DAS ESTRUTURAS INVESTIDAS DO PODER DE DETERMINAR OUTRAS ESTRUTURAS E INSTITUI COMO OBJETO AS LEIS SEGUNDO AS QUAIS AS ESTRUTURAS TENDEM A SE REPRODUZIR PRODUZINDO OS AGENTES DOTADOS DO SISTEMA DE DISPOSIÇÕES CAPAZ DE ENGENDRAR PRÁTICAS ADAPTADAS ÀS ESTRUTURAS E CONTRIBUINDO, POR ESTA VIA, PARA REPRODUZIR TAIS ESTRUTURAS.
TAL POSTURA CONTÉM UMA CRÍTICA IMPLÍCITA QUE SE PODE APLICAR TANTO ÀS CORRENTES QUE ABSOLUTIZAM O PONTO DE VISTA MANIFESTADO PELO AGENTE. EM VIRTUDE DOS MALABARISMOS PARA EXORCIZAR O HISTORICISMO, POULANTZAS REJEITA QUALQUER CONCEPÇÃO QUE TORNE A LUTA DE CLASSES O ELEMENTO DINÂMICO-DIACRÔNICO DO SISTEMA DE ESTRUTURAS.
A MEDIAÇÃO OPERADA PELO AGENTE TENDO EM VISTA A REPRODUÇÃO SOCIAL ASSOCIA-SE AO PAPEL ESTRATÉGICO QUE O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO DESEMPENHA ATRAVÉS DAS AGÊNCIAS EDUCATIVAS, SEJA O SISTEMA DE ENSINO, SEJA OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA, SEJA A INCULCAÇÃO FAMILIAR. A ÊNFASE RECAI PORTANTO NO PROCESSO DE MOLDAGEM POR QUE PASSA O AGENTE A FIM DE INCORPORAR OS PRINCÍPIOS E AS SIGNIFICAÇÕES DE UM DETERMINADO ARBITRÁRIO CULTURAL. PARA MUITOS, OS AGENTES NÃO VIVEM OUTRA COISA A NÃO SER AS SUAS PRÓPRIAS REPRESENTAÇÕES, DE ONDE DERIVAM A POSIÇÃO E O PESO DE CADA ELEMENTO DO MUNDO FÍSICO E SOCIAL. ENTRETANTO, SEM CHEGAR A ESSE EXTREMO, DEVE-SE-LHES CONCEDER UM GRAU MÍNIMO DE CONSCIÊNCIA E DOMÍNIO PRÁTICO QUE LHES PERMITA AO MENOS EXECUTAR ATOS E RITUAIS CUJO SENTIDO COMPLETO LHES ESCAPA. DO PONTO DE VISTA DO AGENTE, E TÃO-SOMENTE EM CERTA MEDIDA, O MUNDO É O QUE CONSTA DE SEU UNIVERSO DE REPRESENTAÇÕES, AS QUAIS DEVEM FORÇOSAMENTE SER INCORPORADAS À CONSTRUÇÃO DO OBJETO A CARGO DO OBSERVADOR. NA OBRA DE MAUSS: DESDE A CARACTERIZAÇÃO DO ATO SOCIAL INSPIRADO POR UM SENTIDO, POR UMA REPRESENTAÇÃO (NO CONTEXTO TEÓRICO DE MAUSS), O QUE ALIÁS NÃO ESTÁ LONGE DA CONCEPÇÃO DE WEBER. NOÇÃO DE AÇÃO SOCIAL E RELAÇÃO SOCIAL EM WEBER. ELEMENTOS COMUNS ENTRE MAUSS E WEBER NO TOCANTE À NOÇÃO DE AÇÃO SOCIAL. MAS AS REPRESENTAÇÕES POSSUEM UMA EXISTÊNCIA MATERIAL E EM GERAL, TRADUZEM-SE EM ATOS E PRÁTICAS. O PROBLEMA DO SIMBOLISMO PASSA POR UMA RETIFICAÇÃO DE PERSPECTIVA, A SOCIEDADE É DEFINIDA COMO UM SISTEMA DE RELAÇÕES ONDE CADA ELEMENTO TRAZ UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O TODO.É PRECISO CLASSIFICAR OS FENÔMENOS SOCIAIS SEGUNDO DIFERENTES CATEGORIAS QUE, EM ÚLTIMA ANÁLISE,  CORRESPONDEM AOS DIVERSOS TIPOS DE ARRANJO INSTITUCIONAL. POR ESSA VIA MAUSS PROPÕE UMA SEGUNDA REGIONALIZAÇÃO, DE CARÁTER OPERACIONAL, QUE VISA CONSTRUIR UM OBJETO PASSÍVEL DE ANÁLISE EMPÍRICA CONCRETA. A REGIONALIZAÇÃO INICIAL DE ONDE PARTE DURKHEIM ESTABELECE UMA DISTINÇÃO ENTRE

  • OS FATOS SOCIAIS
  • OS FATOS PSÍQUICOS
  • OS FATOS ORGÂNICOS
ESTE ESTUDO DOS GRUPOS SECUNDÁRIOS, DOS MEIOS DE QUE SE COMPÕEM O MEIO TOTAL, A SOCIEDADE, O ESTUDO DE SUAS VARIAÇÕES, ALTERAÇÕES, DE SUAS AÇÕES RECÍPROCAS E REAÇÕES CONSTITUI UMA DAS COISAS MAIS URGENTES. MUITO MAIS DO QUE NA PRÁTICA SOCIAL, QUE SE CONSTATA A VIDA VERDADEIRA, AO MESMO TEMPO MATERIAL E MORAL, O COMPORTAMENTO DO GRUPO. AS DIFERENTES MODALIDADES INSTITUCIONAIS (RELIGIÃO, DIREITO ETC) CORRESPONDEM A DIFERENTES PONTOS DE VISTA ACERCA DA VIDA SOCIAL TOTAL. A PREOCUPAÇÃO COM O PROBLEMA DAS CONDIÇÕES DE COMPARABILIDADE LEVA AO ESTUDO DE FATOS PASSÍVEIS DE SEREM AGRUPADOS EM GÊNEROS E QUE DEVEM EXIBIR INDICADORES EMPÍRICOS MANIFESTOS. AS RAZÕES QUE JUSTIFICAM UM RECORTE CUJOS CRITÉRIOS PARECEM QUASE SEMPRE LIGADOS A UM PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO ENCONTRAM SEU FUNDAMENTO EM PROCESSOS HISTÓRICOS AO FIM DOS QUAIS DETERMINADOS ÂMBITOS DA REALIDADE SOCIAL SURGEM AUTONOMIZADOS. DANDO ALGUMAS VEZES A IMPRESSÃO DE QUE OS DIVERSOS NÍVEIS DE REALIDADE CORRESPONDEM ÀS MÚLTIPLAS FUNÇÕES TÉCNICAS
  • TANTO NO PLANO DA DIVISÃO DO TRABALHO MATERIAL COMO
  • NO PLANO DA DIVISÃO DO TRABALHO SIMBÓLICO
SEGUNDO MAUSS, A ORIGEM DESSES PONTOS DE VISTA QUE ACABAM POR CONSTITUIR DOMÍNIOS ESPECÍFICOS DA REALIDADE, RESULTA DO ESTADO HISTÓRICO DAS CIVILIZAÇÕES DE QUE TAMBÉM É PRODUTO NOSSA CIÊNCIA SOCIOLÓGICA. A SEPARAÇÃO E A DISTINÇÃO DE UM DOMÍNIO DA REALIDADE SE EFETIVA NO MOMENTO EM QUE TAL SUCEDE NA PRÁTICA E NO PENSAMENTO DE UMA DADA SOCIEDADE. OS PONTOS DE VISTA PASSÍVEIS DE SEREM ADOTADOS PELA CIÊNCIA DERIVAM DA DIVISÃO DO TRABALHO E DO PROCESSO DE ESPECIALIZAÇÃO CRESCENTE. BOURDIEU SUBSCREVERIA A AFIRMAÇÃO DE QUE "TODA ATIVIDADE SOCIAL QUE, EM UMA SOCIEDADE, CRIOU PARA SI MESMA UMA ESTRUTURA E À QUAL UM GRUPO DE HOMENS SE DEDICOU DE MANEIRA ESPECIAL, CORRESPONDE SEGURAMENTE A UMA NECESSIDADE DA VIDA DESSA SOCIEDADE" (MARCEL MAUSS). OS DIVERSOS NÍVEIS INSTITUCIONAIS E OS DIFERENTES GRUPOS ESPECIALIZADOS CORRESPONDEM A UMA DADA FUNÇÃO, A UM DETERMINADO OBJETIVO. EM GRAMSCI É POSSÍVEL ENCONTRAR INDICAÇÕES NO MESMO SENTIDO. QUANDO SE REFERE AO CONCEITO DE CLASSE SOCIAL, PROCURA DISTINGUI-LO DO CONCEITO DE GRUPO.AS REFERÊNCIAS QUE ATÉ AGORA VIMOS FAZENDO ENVOLVEM EM GERAL TEXTOS DO PERÍODO EM QUE COLABOROU DE MODO ESTREITO COM DURKHEIM. NÃO É DE ESTRANHAR, QUE INCORPORE QUASE QUE EM ESTADO PURO OS POSTULADOS E O PROGRAMA CIENTÍFICO DO FUNDADOR.CONTUDO, OS TRABALHOS DO ÚLTIMO PERÍODO DA ATIVIDADE CIENTÍFICA DE MAUSS, SEM CHEGAREM A REJEITAR O LEGADO DE DURKHEIM, INTRODUZEM UMA PROBLEMÁTICA QUE A SOCIOLOGIA DE CORTE ESTRUTURALISTA PROCUROU EMPALMAR.