Acima: espaço
SALA DE CIMA - durante a montagem - alterações foram feitas posteriormente.
Layout: Paula Borela e Paulo Rogério.
Na montagem desta exposição, em função da
grande quantidade de obras - 80 aproximadamente - pensamos em proporcionar
uma zona de respiro e pausa para o público, utilizando bancos para assento em
frente algumas obras. As salas do espaço são multifuncionais e na medida do
possível distribuímos 3 bancos de madeira pela galeria (2 na garagem e 1 na
sala de cima). É comum que nos vernissages a quantidade de visitantes seja
maior que nos dias cotidianos da galeria, inclusive isso é um fator que pode
gerar desconforto visual na apreciação das obras. Alguns preferem visitar a
mostra em outros dias mais calmos e tranquilos, sem o frisson típico de uma
abertura. O respiro, o silêncio e a pausa podem fazer parte da experiência
estética ao visitar uma exposição e consideramos isso no projeto expográfico.
Colocamos um banco na SALA DE CIMA,
voltado especificamente para uma obra de grandes dimensões (Bruno Marcitelli:
"Pietà" acervo do artista). De 1499 a 2017 muita coisa mudou na
sociedade e além do deslocamento espacial, da Basílica de São Pedro até o
bairro Tabajaras em Uberlândia, Bruno nos leva a olhar - e a parar para olhar -
para uma nova Pietà, em que Maria e Jesus são negros. A irreverência do
trabalho está no fato de que o espectador vê algo novo, diferente do que já viu
várias vezes em museus e livros (a escultura original) e acreditamos nessa
proposta como recurso da contemporaneidade. Esta pintura participou de um
projeto entre amigos em que o artista a levou para compor um cenário, nas
margens da rodovia entre Uberlândia e Araguari. A tela foi inacreditavelmente
apreendida pela PM e danificada nos transportes, de um lugar a outro, bem como
durante seu armazenamento quando não estava na posse do artista. Ao trazer a
obra para o espaço expositivo o artista cogitou fazer os devidos reparos, mas
ao mesmo tempo optamos por manter os danos, pois faz parte da história da tela.
O forte olhar e expressão corporal de Maria chama mais atenção causando mais
impacto que o corpo do personagem principal em primeiro plano. A releitura é
muito expressiva e evoca questionamentos ancorados na História da Arte,
atualizando muito sentidos.
O racismo é trazido à tona, assim como a
homofobia e o machismo são temáticas complexas que fazem parte das estratégias
de interlocução entre esse artista e seu público. Ao lado da pintura
posicionamos uma televisão antiga de 20 polegadas que mostra um vídeo produzido
por Marcitelli que é apresentado em DVD player, um anacronismo provocado pela ação
curadorial. Um teaser em looping acompanha a pintura que faz
referência à escultura em mármore de Michelangelo Buonarotti. Na animação vemos
uma foto dos personagens com a iminência da morte: o antes e o depois do tiro
no peito. Um réquiem de Mozart foi inserido como trilha sonora de fundo e o
tempo entre imagem e não-imagem foi repensado para esta situação da exposição.
LINK do teaser no formato antes da exposição:
https://www.youtube.com/watch?v=q639qaFikS8
No sentido oposto a esta grande tela temos
um conjunto de obras que são diametralmente opostas no sentido de suas
dimensões e do esforço que o espectador deve realizar com seu aparato retiniano
para observá-las. Dentro de 11 passe-partouts pretos chanfrados, estão os desenhos
de um artista que é conhecido majoritariamente por sua produção tridimensional
(Tião: "Através da lente dos seus olhos" acervo do artista). Os
desenhos que chegam a medir 2x2cm e 2x1cm são croquis que foram produzidos
entre 1998 e 2015. Os estudos feitos pelo artista serviram de base para peças
em concreto celular, argila, gesso entre outros materiais que já foram
executadas tridimensionalmente ou que ainda serão. Trabalhos distintos que
foram produzidos ao longo de 17 anos, aqui reunidos ganham notadamente um
sentido estético característico de outro Tião em sua criação bidimensional,
agora revelada. As formas desenhadas sobre papel que lembram pessoas, animais e
suas possibilidades híbridas foram identificadas com subtítulos: “jornada,
cerimônia, continente, litoral, pescador, paleta, carícias, pé grande, cerrado,
miau, pelicano de fraque, coito, carona, ordenha, ombro amigo, picadeiro,
Bahia, sossego, manicômio, Himalaia, vergonha, prece, ancião, espelho,
epidemia, saci, futuro, cesta, carteado, sedução.” Optamos por não colocar a
faixa amarela de retenção entre obra e público na montagem desta obra, pois o
objetivo é que o espectador se aproxime ao máximo para fazer sua leitura.
Acima: fase de montagem das obras de Tião.
Acima: obra reservada na vernissage e vendida posteriormente.
Ao lado esquerdo desse conjunto estão 3
gravuras em metal (Tião: “Hora”, “A espera” e “Bordado” R$200,00 cada – sendo
que a última foi vendida) do mesmo artista. A simplicidade do traço que forma a
coruja está presente também na paisagem com a árvore seca que abriga um único
pássaro, cúmplice de um boi magro que pasta na solidão da paisagem; a mulher
que borda parece estar concentrada em sua tarefa minuciosa, semelhante à
prática do artista que a retrata.
A animação digital que sai da janela e
chega até a parede do quintal da casa através de projeção (Alexis: “Labirinto
Visual”), é um nano-videoarte em cores preto, vermelho e branco produzido em
2015 que participou da quarta edição do Festival Brasileiro de Nanometragem de
Atibaia/SP em 2016. Originalmente o vídeo tem um áudio que segue as imagens, um
som que ressalta a mobilidade mecânica do percurso desse OLHO no ambiente
digital simulado. Para a exposição o áudio foi cortado.
Um desenho digital que parece um still do vídeo (Alexis: “Labirinto
Visual” R$350,00) mostra um olho vermelho no centro, permeado por círculos
preenchidos de outros círculos que em uma espécie de universo paralelo no qual
todos estão conectados em um labirinto.
LINK do “Labirinto
visual” de Alexis (com áudio):
https://www.youtube.com/watch?v=abYAj6nCblw
Temos 3 máscaras em técnicas mistas que
estão no vão da escada (vide layout em próximo post) e ainda na SALA DE CIMA
temos uma fotografia com uma máscara feita de LEGO usada pelo artista (Alexis: “Fotos
02 máscara” R$400,00). A máscara foi construída para a execução da foto e
moldada nas medidas e formato da cabeça do seu criador. Elaborada com um
brinquedo educativo, o material oferece ao espectador dois lados: o aspecto lúdico
das peças coloridas moduladas que brincamos na infância e, por outro lado, o
incômodo visual causado pela sensação de vestir uma máscara rígida que se fecha
sem a possibilidade de ser retirada da cabeça, a não ser que seja desmontada,
consequentemente desfeita. O objeto torna-se performático nesse sentido.
B U Z Z é o nome de um artista criado em 2015
que vive no Ciberespaço. “Uma identidade artificial criada para interagir
artisticamente nas redes sociais”, diz Marcitelli. Ocupando uma das paredes da
mesma sala B U Z Z aparece formando um corner
com “Pietà” através de pinturas e manipulações digitais, além de apresentar uma
gravura em metal que originou a pesquisa com a temática investigada. Celebridades
como Walério Araújo, estilista e designer de moda, Lady Gaga, cantora e artista
pop e Vera Holtz, atriz, estão reunidos de forma bem-humorada em um espaço
onírico que atualiza uma cena religiosa com Madonna, menino Jesus e anjos (B U
Z Z: “SANTA HOLTZ & OS WALÉRIOS” R$350,00). A alegria estampada em suas
faces pode ser associada à um pouco de deboche e sarcasmo, que provica dúvida
sobre a autenticidade dos personagens. Figuras públicas reaparecem (B U Z Z: “DITADURAGAY”
R$350,00) nas cabeças degoladas de Bolsonaro e Neymar – sendo o último ocultado
nesta versão presente na galeria – com a presença de amigos reinventados que
seguram metralhadoras parecendo escoltar a figura central: Waquilla Correia,
ator e diretor no Ocupa Teatro, e Luana Julia, atriz em formação, que expõe a
nudez de seu busto e levanta a ideia de outro padrão de beleza feminina, que
não a midiática que nos é imposta. Ambos estão no entorno daquele sentado no
trono de salto alto, que por sua vez veste um cap militar com uma máscara frontal cadavérica. Não se trata de um autorretrato
uma vez que é B U Z Z quem pinta Bruno.
Acima: prospecções no atelie do artista.
Entre estes dois adesivos sobre PVC, está
uma gravura entrevidros antireflexo com moldura dourada clássica que remete à
época da Inquisição, na qual pessoas eram queimadas vivas por serem
consideradas hereges pela Igreja Católica. A imagem (B U Z Z: “PRIMEIRA GRANDE
QUEIMA DE FUNDAMENTALISTAS RELIGIOSOS” R$450,00) também faz referência à obra do
artista espanhol Francisco Goya na sua representação dos horrores da época.
Acima: gravura antes da moldura, no atelie do artista.