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segunda-feira, 10 de julho de 2017

texto crítico da exposição CORPÓREOS - sala aberta (parte 1 de 4)

 

Desenhos dos espaços via paintbrush: Paula Borela.

A exposição CORPÓREOS, coletiva com 8 artistas sendo a maioria nascida em Uberlândia (5), trouxe à galeria LUPA muitos desafios no que refere-se a montagem e sua expografia. Segunda exposição que é fruto da curadoria conjunta Paula Borela e Paulo Rogério Luciano, ocupamos os espaços de uma casa-galeria com inúmeras obras de arte. De formatos, linguagens, técnicas e possibilidades de leituras diferenciadas, consideramos cada obra em si mas ao mesmo tempo as pensamos em conjunto na exposição. Tivemos público recorde no vernissage ocorrido no dia 27 de Junho e acreditamos que um trabalho contínuo, profissional e coeso entre curadora e galerista oferece credibilidade a todos envolvidos nesse tipo de evento cultural. Ao proporcionar a visita ao público, valorizamos o trabalho dos artistas - que produziram suas obras e optaram por deslocá-las de suas zonas de conforto, seus respetivos ateliês para dentro da galeria. Convém citar que quando um artista participa de uma coletiva, geralmente ele/a não sabe/ não imagina quais obras estarão dialogando com a/s dele/as. De certa forma, uma vernissage coletiva pode ser uma surpresa. Lúdica e agradável, parte das ações curatoriais - como, por exemplo, som ao vivo (mecânico ou não) - gostamos de deixar os artistas à vontade com seus convidados, desfrutando de um momento de relaxamento e prestígio, recompensa. Imprevistos acontecem e por isso trabalhamos com margens de tempo (folgas) para que tudo aconteça tranquilamente. Outro aspecto da curadoria são as visitas que acontecem antes da seleção de obras. A percepção in loco no universo de cada artista, a possibilidade de estar em contato com uma variedade maior de sua produção e as conversas sobre processos criativos contribuem, de fato no estreitamento da relação curador-artista. Às vezes, perceber como é a forma de viver do artista pode ser revelador no sentido do entendimento de suas obras (produtos, matéria visível) e sua filosofia de vida (matéria invisível).

Continuando o modelo de crítica da exposição anterior EM CONTATO, quando citadas, as obras dos artistas aparecerão no seguinte formato: (Nome do Artista: “título” preço da obra).


Na foto de costas, o Carlos Jr (colaborador Lupa -  professor de desenho). Mesa e cadeiras usadas nos cursos de BORDADO e CRIATIVIDADE (profs Lorena e Maria Vidal). Esta mesa - assim como as outras que temos na galeria - é desmontável e também foi utilizada pelo DJ André Paumgartten no vernissage vide foto abaixo.




Pinturas de Cláudio Silva.

A visita começa com onze obras na entrada da galeria (SALA ABERTA - garagem), de dois artistas. Cinco pinturas (Cláudio Silva: “Ação, Transpiração, Reflexão, Conflito e Percepções”: preço sob consulta) de um lado, complementadas com outras duas (Cláudio Silva: “Sensibilidade e Concentração”: preço sob consulta) mostram uma fase recente do artista uberlandense. Não afirma que é ele nos títulos evitando a palavra de autorreferência, mas nos estudos e croquis, revela em seus desenhos que são autorretratos. Com processo que lembra muito o action painting da década de 1940 preconizado pelo norte-americano Jackson Pollock, Silva aqui institui sua própria linguagem através de seus drippings. Das garatujas surgem esse ser que, isolado em cada situação de extremo envolvimento, parece esconder-se por entre linhas e cores do mundo. Observando no total vemos predominâncias do vermelho e azul (1, 4 e 7) assim como do branco (5 e 6). 



Desenhos em A3 de Cláudio Silva. Prospecções da curadora no ateliê do artista. 

Nos desenhos que servem de base para a pintura, o excesso de linhas nem sempre ocupa todo o espaço do papel vide fotos acima, o que nos faz pensar que a exploração pictórica ganhou força assim como a necessidade de expressão do mundo que o rodeia. No papel, o isolamento do entorno é mais evidente se observada a relação figura e fundo, enquanto na pintura existe um caos que expressa uma identidade repetida entre forma e contra-forma. Por mais que cada um dos títulos remetam a variações que traduzem formas do artista de se relacionar com a própria pintura, fica a curiosidade para o espectador: são semelhantes. Entra em cena um ser que habita nas garatujas de seu mundo interior e exterior ao mesmo tempo. Onde ele está e o que está fazendo? Com materiais e resultados distintos, dos croquis para a pintura, a expressão humana é tema encontrado (e procurado) no gesto do artista. São obras que exigem do espectador uma observação minuciosa e prolongada.

 
Detalhe da lateral das telas em branco. Prospecções no atelie da artista.



Pinturas de Gabriela Dionisio (SALA ABERTA).

Outra opção de entrada na galeria seria pela leitura de quatro pinturas, sendo três acrílicas sobre tela que fazem parte de uma série chamada de RETRATOS e um óleo sobre papel (Gabriela Dionisio: "The rest is silence" preço sob consulta, "Indócil" R$300, "Disciplinado" R$380 e "Resignado" R$300). Para a primeira mostra da artista paulistana ela optou por emoldurar um de seus trabalhos selecionados - que a priori estaria pareado com sua série sobre o luto colocada na SALA INTERIOR PISO 1(vide post parte 3 de 4). São quatro homens, figura que a artista explora em meio a predominância dos retratos femininos ao longo das produções artísticas na história da arte. Da esquerda para a direita vemos de forma intercalada dois homens de olhos fechados e retraídos em suas poses ao passo em que outros dois nos olham atentamente. O primeiro parece estar desacordado de modo que seu contato com o espectador torna-se sublimável em uma posição horizontal e direcionada para longe da superfície da tela. Quem são eles e por que usam estes trajes de outrora? O rapaz de lenço vermelho tem uma sombra projetada em cima do seu corpo causando um estranhamento  que confirma ao drama de uma cena interior, que não sabemos se é diurna ou noturna. Já o jovem de terno nos convence de sua disciplina e nos mostra sua mão esquerda afagando seu peito enquanto é pego de surpresa pelo espectador, algo parece o incomodar. Aquele de olhos fechados porém agora em uma pose vertical de fato está retraído mas também demonstra uma intenção em relação a pose. Se está conformado e suporta o mal sem se revoltar, em qual época ele viveu? Será nos dias atuais? O fundo azul que separa a figura do espaço onde habita talvez denote sua intimidade e recolhimento nesse estado de ser e sentir. 

Quase que de forma oposta Silva e Dionísio se comunicam e essa variação de percepções visuais foi parte da proposta expográfica para a entrada na exposição. Afinal são as primeiras obras com as quais o público tem contato. De um lado a abstração e de outro a figuração. Cada um em sua forma essencial e potente, trazendo questionamentos além das apreciações. 



Como parte das ações curatoriais sempre faço um POSTER informativo das obras (layouts) nos espaços da galeria bem como acho importante inserir a foto (imagem de perfil no Facebook) de cada participante, com um breve release das obras expostas, cidade de nascimento e ano.