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domingo, 16 de julho de 2017

texto crítico da exposição CORPÓREOS - SALA INTERIOR PISO 1 (parte 3 de 4)

Layouts Paula Borela.

Nesta sala, as obras bidimensionais são de dois artistas em formação no curso de Artes Visuais da UFU, que se mostram pela primeira vez em uma coletiva na cidade de Uberlândia - Gabriela Dionísio e Diego Campos. E a única obra tridimensional ficou no centro da sala, uma cerâmica (Cláudio Silva: "Corpo": R$250 - VENDIDA) que quebra o padrão de beleza feminina instituída nas mídias. O torso de uma mulher apresenta deformações consideráveis ao colocar o espectador frente a  volumes de barriga e quadril avantajados. Outra questão que podemos notar é em relação a ausência da cabeça, geralmente esculpida nos bustos - o que chama atenção mais uma vez para a negação das formas  encontradas nas capas de revistas, mas bastante comuns entre as mulheres do cotidiano na realidade. Trata-se de um trabalho de 8 anos atrás, mas pelo fato de dialogar com as questões da representação do corpo, fazia todo o sentido sua inserção na mostra intitulada por Paulo Rogério Luciano de Corpóreos. Na definição do dicionário o termo significa aquilo que é relativo ou que pertence ao corpo; que tem corpo, que é material. Geralmente ao consultar um médico endocrinologista somos avaliados através de um padrão internacional chamado IMC, o índice de massa corpórea. Na exposição não estamos preocupados com esse índice, talvez seja mais interessante conhecer um o coeficiente artístico de cada participante. As dimensões dessa obra (31x29x22cm) em relação a escala humana são menores em poucas proporções, tornando-a quase apalpável. Não há reproduções, é uma peça única. 

 


Cerâmica na casa do artista que começou a praticar o desapego com a venda desta obra. De suas 8 obras selecionadas (7 pinturas e 1 escultura) apenas a tridimensional foi colocada à venda. As demais foram expostas com a observação PREÇO SOB CONSULTA, situação  quando o artista não tem certeza do desejo de colocar seus trabalhos em circulação no mercado de arte.



Fase de seleção de obras no ateliê de Dionísio.


Obras instaladas na galeria. Configuração da série "Luto"solicitada pela artista nesta disposição (conjunto de 5 obras à esquerda).

Têmpera vinílica, guache e acrílica sobre papel permeiam a produção pictórica de uma artista que iniciou seus estudos no curso de Letras e que, felizmente, optou por seguir carreira nas artes plásticas. De uma lado uma fase inicial em que a artista investiga as características da situação psicológica da perda de alguém querido/a pela sua morte (Gabriela Dionisio: "Luto" coleção da artista - conjunto de 5 pinturas). Ela  pinta uma mulher - que pode ser outra ou ela mesma...várias mulheres, todas nós passamos pelo luto - com véu preto e emocionalmente abalada. Além do véu o fundo também é predominantemente preto, sem espaço algum para a refração da luz. A luminosidade que chega até o rosto dessa mulher é o luto de maneira fragmentada, em fases sentimentais com valores simbólicos de um "grupo de cores": azul representando a "solidão e a tristeza", preto "morte", vermelho como "amor interrompido"e branco. Quase não vemos esse branco da "pureza e esperança".

Do outro lado, mas de forma tão interessante quanto, a artista continua mostrando sua habilidade composicional mas dessa vez uma única mulher - aparece no canto superior esquerdo da montagem, em preto, branco e cinza - é retratada (Gabriela Dionisio: "Estudo [Coachella] R$120 - VENDIDA). Em sua maioria masculinos, os 6 retratos de uma série de 7 selecionados para esta mostra, são no mínimo andróginos. Apresentam traços ou comportamentos imprecisos, entre masculino e feminino. Um deleite representacional-pictórico nos toca pelas pinturas de Dionisio e nos levam a...

Em alguns a artista busca imagens dos bastidores de desfiles de moda (Gabriela Dionisio: "Garoto de vermelho" R$180). Em outros aparece uma referência de seus estudos, uma celebridade na área da literatura (Gabriela Dionisio: "Franz Kafka" R$150). Prática comum na arte contemporânea, fotos são usadas pelos artistas como referência para a pintura , mas aqui o resultado em que Dionisio chega tem um diferencial: são indivíduos que não se sobrepõe uns aos outros, estão lado a lado, pareados horizontalmente. Poderiam ser todos chamados de "Daniel" nas palavras da artista. No entanto a ideia não é ser parecida ou fiel com o indivíduo real, com certeza estes indivíduos são do universo de Gabriela Dionísio. No último caso citado, a artista usa sua total liberdade para alterar matizes ou reinventar as misturas das cores, alterando por exemplo o casaco do personagem. 

A escala pictórica pode ser bem próxima do natural, escolha consciente nos retratos em que o rosto desses homens aparecem inclinados: para a direita (Gabriela Dionisio: "Estudo [Blues]" coleção da artista) e para a esquerda (Gabriela Dionisio: "Don't preach" R$200). O último está curiosamente vendado e neste ela optou não deixar as bordas brancas, que geralmente faz antes da pintura, com uma fita crepe. Isso deixa o papel com uma margem de aproximadamente 1cm, fazendo um passe-partout natural, por assim dizer. Bordas leves, conteúdo denso. Outra figura não tão próxima de nós, mas que ainda está nos limites do real, nos fala talvez da relação básica da artista com suas ferramentas e o que ela nos torna visível em uma produção intensa e jovem nas artes (Gabriela Dionisio: "Estudo [Espectrocopia] R$100). A única pintura em posição paisagem/ horizontal foi posicionada dividindo as duas séries na SALA INTERIOR PISO 1. A pintura está numa linha tênue entre os gêneros (Gabriela Dionísio: "Estudo [Descanso]: coleção da artista). 



Foto da galeria com obras montadas na exposição CORPÓREOS. Escultura de Cláudio Silva e pinturas de Gabriela Dionísio.