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HÁ MENOS de 50 anos, apareceram nas artes plásticas modos de proceder e de se apresentar diferentes do que a arte moderna havia proposto até então. Sua estrutura se tornava mais contaminada pelo espaço ao redor, e a obra respondia agindo de maneira ativa nesse entorno. É nesse momento que recrudescem questões como a participação, a performance e a instalação.
O livro "O Espaço Moderno", de Alberto Tassinari, pontua essa distinção e procura entender como se deu a passagem da arte moderna para a arte contemporânea. Para definir com precisão o que são os dois momentos, o autor enfrenta uma dificuldade inicial, já que não se trata de dois tipos de manifestação unívoca. Tanto nas obras modernas como nas contemporâneas é difícil encontrar um princípio que as unifique.
É na noção de espaço que Tassinari encontra não apenas o que singulariza cada momento, mas um viés privilegiado para observar como se deu a passagem de um para outro. O uso da categoria de espaço acaba funcionando como um artifício polêmico no interior do livro. Em tempos tão pouco afeitos à visualidade dos trabalhos, usar uma categoria tão formal talvez soe como um pedido de paciência e cuidado, de um olhar atento e generoso antes que teçamos qualquer comentário.
Traduzindo nesses termos, a passagem da arte moderna para a arte contemporânea seria a mudança da fase de formação do espaço moderno para a sua fase de desdobramento.
De maneira bastante clara, Tassinari vê na passagem a constituição de um espaço divergente ao da perspectiva. Seria na arte contemporânea que o antiilusionismo moderno se realizaria, constituindo um espaço próprio.
Dessa forma a arte contemporânea se coloca no mundo e utiliza seus sinais como índices puramente objetivos do que se estrutura nos trabalhos, como construções inteiramente secularizadas, de uma espacialidade que não precisa mais se estabelecer. Essa interpretação talvez encerre a tensão modernista de seu período de formação e responsável por uma riqueza ímpar. Entretanto parece enxergar possibilidades, das obras que, resistentes, insistem em rasurar a experiência comum, em um lugar em que elas nunca estiveram tão próximas dessa.