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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

o Estado e o empresariamento do sistema da arte - NEY VARGAS DA ROSA

O trabalho evidencia um novo modelo de gestão e funcionamento do sistema da arte no Brasil, considerando a emergência de dois novos atores e de um tipo específico de instituição cultural a partir dos anos oitenta. Nesse sentido, analisa as atuações de curadores, produtores e plataformas culturais articuladas a corporações bancárias no destino de artistas e obras no contexto da história da arte na contemporaneidade. Para tanto, focaliza a atuação do Itaú Cultural, em São Paulo, e do Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro, no período de 2000 a 2005, da qual são selecionados para entrevista um grupo de curadores, produtores culturais e artistas, além dos gestores das instituições. O objetivo do estudo é mostrar como o regime de eventos passou a vigorar no sistema, influenciado pela ação do Estado e das infra-estruturas emergentes, responsáveis pela circulação e visibilidade da produção artística.

CAP. 2 AS NOVAS REGRAS DO JOGO: O SISTEMA DA ARTE NO BRASIL

ESTE TEXTO É UMA SÍNTESE DE 2 CAPÍTULOS DA DISSERTAÇÃO "ESTRUTURAS EMERGENTES DO SISTEMA DA ARTE: INSTITUIÇÕES CULTURAIS BANCÁRIAS, PRODUTORES E CURADORES" - MESTRADO EM ARTES VISUAIS, ÊNFASE EM HISTÓRIA, TEORIA E CRÍTICA DE ARTE DA UFRGS, 2008.

ÚLTIMAS DÉCADAS. ALTERAÇÃO NO PANORAMA INSTITUCIONAL DOS BENS SIMBÓLICOS NO BRASIL. AUMENTO DE MUSEUS, CENTROS E ESPAÇOS CULTURAIS, ELENCO DE EDITAIS PARA PROGRAMAS E PROJETOS. MOVIMENTO CUJA ORIGEM NÃO ESTÁ CENTRADA APENAS NA VONTADE DE CONTRIBUIR COM O IMPULSO INTELECTUAL E O DESENVOLVIMENTO HUMANO:
  • RESULTADO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O SETOR E 
  • A MANEIRA COMO O SISTEMA ECONÔMICO VIGENTE ASSUME O MODUS OPERANDI DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA
Modus operandi (plural: modi operandi) é uma expressão em latim que significa "modo de operação". Utilizada para designar uma maneira de agir, operar ou executar uma atividade seguindo sempre os mesmos procedimentos.Esses procedimentos são como se fossem códigos.

O SURGIMENTO DAS LEIS DE INCENTIVO GEROU CONDICIONAMENTOS QUE SE CONFUNDEM COM POLÍTICAS PÚBLICAS. A CULTURA COMO ASSUNTO DO ESTADO PASSA DIRETAMENTE ÀS MÃOS DAS "EMPRESAS QUE DEFINEM SEU APOIO EM FUNÇÃO DE SEUS INTERESSES EMPRESARIAIS DE COMUNICAÇÃO E NÃO EM FUNÇÃO DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA". OLIVIERI, P. 149 



É COM BASE NESTA LÓGICA QUE OS ANOS 1990 PODEM SER REFERENCIADOS COMO MARCO HISTÓRICO NO CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA CULTURAL DO PAÍS.RESULTADO DA:
  • CONSOLIDAÇÃO DA ESTRUTURA BUROCRÁTICA DE FOMENTO OFERECIDA PELO APARELHO ESTATAL A QUE A SEGUNDA METADE DESSA DÉCADA ASSISTIU. 
AS OBRIGAÇÕES DO ESTADO TÊM NA LEI FEDERAL DE INCENTIVO À CULTURA (LEI ROUANET) SEU PRINCIPAL INSTRUMENTO LEGAL, SUSTENTADO CONCEITUAL E FINANCEIRAMENTE PELO MODELO DE CAPITALISMO VIGENTE.

Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991) é a lei que institui politicas públicas para a cultura nacional, como o PRONAC - Pr. Essa lei é conhecida também por Lei Rouanet (em homenagem a Sérgio Paulo Rouanet, secretário de cultura de quando a lei foi criada).
As diretrizes para a cultura nacional foram estabelecidas nos primeiros artigos, e sua base é a promoção, proteção e valorização das expressões culturais nacionais.
O grande destaque da Lei Rouanet é a politica de incentivos fiscais que possibilita as empresas (pessoas jurídicas) e cidadãos (pessoa física) aplicarem uma parte do IR (imposto de renda) devido em ações culturais.
O percentual disponível de 6% do IRPF para pessoas físicas e 4% de IRPJ para pessoas jurídicas, ainda que relativamente pequeno permitiu que em 2008 fossem investidos em cultura, segundo o MinC (Ministério da Cultura) mais de R$ 1 bilhão.
A lei surgiu para educar as empresas e cidadãos a investirem em cultura, e inicialmente daria incentivos fiscais, pois com o benefício no recolhimento do imposto a iniciativa privada se sentiria estimulada a patrocinar eventos culturais, uma vez que o patrocínio além de fomentar a cultura, valoriza a marca das empresas junto ao público.
No entanto, há críticas à lei. A crítica principal inclui a possibilidade de fundos serem desviados inapropriadamente. Críticas secundárias afirmam que o governo, ao invés de investir diretamente em cultura, começou a deixar que as próprias empresas decidissem qual forma de cultura merecia ser patrocinada Os incentivos da União (governo) à cultura somam 310 milhões de reais: R$30 milhões para a Funarte e R$280 milhões para a Lei Rouanet (porcentagem investida diretamente pela União), enquanto o incentivo fiscal deixa de adicionar aos cofres da união cerca de R$ 1 bilhão por ano (2009).

DESDE ENTÃO TEM SIDO IMPORTANTE RECURSO QUE MOBILIZA O EMPRESARIADO A INVESTIR NA ÁREA, MAS EM CONTRAPARTIDA TOMA PARA SI O PODER DECISÓRIO, REDEFININDO
  • CIRCULAÇÃO
  • LEGITIMAÇÃO 
  • VALORAÇÃO (POR QUE NÃO DIZER)
DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA E INTELECTUAL.OUTRA QUESTÃO GERADA PELO NOVO INSTRUMENTO É A FORMA CONDICIONADA DO EMPRESARIADO EM INVESTIR SOMENTE MEDIANTE ISENÇÃO FISCAL. PROJETO SEM LEI É PROJETO SEM PATROCÍNIO.ATRELAMENTO AO DISPOSITIVO LEGAL. EMPRESAS SE BENEFICIAM COM AS ESTRATÉGIAS DE PUBLICIDADE E MARKETING, QUE DIVULGAM OS EVENTOS A PARTIR DE DISCURSOS DE DEMOCRATIZAÇÃO E ACESSO A BENS SIMBÓLICOS, CONFERINDO DISTINÇÃO SOCIAL AOS SETOR EMPRESARIAL.

NA LÓGICA DO MERCADO NA ERA NEOLIBERAL, O FINANCIAMENTO DOS BANCOS PÚBLICOS E PRIVADOS EM 
  • PRESERVAÇÃO
  • PRODUÇÃO
  • DISSEMINAÇÃO
DE BENS SIMBÓLICOS EXTRAPOLA OS LIMITES DO TRADICIONAL PATROCÍNIO. VERTIGINOSO CRESCIMENTO DE PLATAFORMAS INSTITUCIONAIS MANTIDAS POR IMPORTANTES CORPORAÇÕES BANCÁRIAS. TENDÊNCIA NA PASSAGEM DOS ANOS 1970 AOS 1980, ESPECIALMENTE NA AMÉRICA LATINA NO CONTEXTO DO PATRIMÔNIO CULTURAL. (VINCULADAS AOS BANCOS CENTRAIS). SOLIDIFICAM-SE COMPONENTES NO SISTEMA DA ARTE QUE PASSAM A OBTER GRANDE DESTAQUE AO OCUPAR INSTÂNCIAS ENDOSSADAS, TAMBÉM, PELO INSTRUMENTO PÚBLICO. PRODUTORES CULTURAIS E INSTITUIÇÕES CULTURAIS BANCÁRIAS SÃO ANALISADOS AO LONGO DO TEXTO, ASSIM COMO QUESTÕES RELATIVAS ÀS ARTES VISUAIS NA LEI ROUANET. DENTRO DO PANORAMA INSTITUCIONAL,
  • ITAÚ CULTURAL (IC) EM SÃO PAULO E O
  • CENTRO CULTURAL DO BANCO DO BRASIL DO RIO DE JANEIRO (CCBB-RJ) 
APRESENTAM MODELOS QUE COLOCAM O PAÍS NUMA SITUAÇÃO SINGULAR NO FOMENTO DA CIRCULAÇÃO ARTÍSTICA. ESSAS INSTITUIÇÕES:
  • PREGAM A DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO AOS BENS CULTURAIS
  • POTENCIALIZAM A CIRCULAÇÃO DE ATORES, NOVOS E CONSAGRADOS NO SISTEMA DA ARTE
ESTRUTURADAS EM DISCURSOS E PRÁTICAS QUE SE ALIAM À POSIÇÃO DEFENDIDA PELO ESTADO. CONCEITO DE SISTEMA DE ARTE (MARIA AMÉLIA BULHÕES) SERVE DE PAVIMENTO AO TEXTO. SEU CARÁTER ABRANGENTE POSSIBILITA ANALISAR DE FORMA ARTICULADA OS ACONTECIMENTOS QUE CONCORRERAM PARA O REARRANJO DO SISTEMA NO PAÍS.

*PRODUTORES CULTURAIS: OS MANAGERS DO MOMENTO

A POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL É MUITO RECENTE.COMEÇA A SE CONSOLIDAR EFETIVAMENTE DENTRO DE UM GERENCIAMENTO BUROCRÁTICO HÁ MENOS DE 2 DÉCADAS. DESCONTANDO DOS 29 ANOS DO MINC (2014) -2 ANOS DE SUA EXTINÇÃO NO GOVERNO COLLOR (ABRIL DE 1990-NOVEMBRO DE 1992). FORAM 15 MINISTROS QUE PASSARAM PELO MINISTÉRIO DA CULTURA, O QUE DIFICULTA A CONSOLIDAÇÃO DE UM PENSAMENTO POLÍTICO ACERCA DA CULTURA.

NomeInícioFimPresidente
1José Aparecido de Oliveira15 de março de 198529 de maio de 1985José Sarney
2Aluísio Pimenta30 de maio de 198513 de fevereiro de 1986
3Celso Furtado14 de fevereiro de 198628 de julho de 1988
4Hugo Napoleão do Rego Neto28 de julho de 198819 de setembro de 1988
5José Aparecido de Oliveira19 de setembro de 198814 de março de 1990
6Ipojuca Pontes[a]14 de março de 199010 de março de 1991Fernando Collor
7Sérgio Paulo Rouanet[a]10 de março de 19912 de outubro de 1992
8Antônio Houaiss2 de outubro de 19921 de setembro de 1993Itamar Franco
9Jerônimo Moscardo1 de setembro de 19939 de dezembro de 1993
10Luiz Roberto Nascimento Silva15 de dezembro de 199331 de dezembro de 1994
11Francisco Weffort1 de janeiro de 199531 de dezembro de 2002Fernando Henrique Cardoso
12Gilberto Gil1 de janeiro de 200330 de julho de 2008Luiz Inácio Lula da Silva
13Juca Ferreira30 de julho de 200831 de dezembro de 2010
14Ana de Hollanda1 de janeiro de 201113 de setembro de 2012Dilma Rousseff
15Marta Suplicy13 de setembro de 201211 de novembro de 2014
16Ana Cristina Wanzeler (interina)13 de novembro de 201431 de dezembro de 2014
17Juca Ferreira1º de janeiro de 2015
NO CONTEXTO ESPECÍFICO DO SISTEMA DA ARTE, UM NOVO ATOR, O PRODUTOR CULTURAL, SE INSTALA NA DÉCADA DE 1990 E PASSA RAPIDAMENTE A OCUPAR RELEVANTE PAPEL NAS ESFERAS DE PODER. PRESSUPOSTOS ACERCA DESTA CONSTITUIÇÃO IMPLICA VOLTAR NOS ANOS 1970 E VERIFICAR O COMPLEXO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÕES DO PERÍODO. É NECESSÁRIO ULTRAPASSAR AS FRONTEIRAS DAS ARTES VISUAIS E INCLUIR NO DEBATE AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O CONJUNTO DE BENS SIMBÓLICOS, SEJAM ELAS RESPOSTAS ÀS DEMANDAS DO SETOR OU RESULTADOS DAS INFLUÊNCIAS DA POLÍTICA ECONÔMICA. SOMANDO ÀS:

  • MUDANÇAS NA DIFUSÃO E NA LEGITIMAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA
  • PARÂMETROS DE ANÁLISE: COMPORTAMENTO DO MERCADO DE ARTE BRASILEIRO
  • REPERCUSSÃO DAS DECISÕES GOVERNAMENTAIS PARA AS ARTES VISUAIS
  • EXPANSÃO DAS PLATAFORMAS DE VISIBILIDADE DOS BENS SIMBÓLICOS
ESSES FATORES, ARTICULADOS ENTRE SI, PODEM CONTRIBUIR PARA REVELAR COMO OS PRODUTORES CULTURAIS SURGEM E CONSTROEM SUAS CARREIRAS NO CAMPO DA ARTE. SEU SURGIMENTO ESTÁ DIRETAMENTE VINCULADO AO PROCESSO NATURAL DO DESENVOLVIMENTO ARTÍSTICO. SUA ORIGEM TAMBÉM ESTÁ NAS NECESSIDADES DA PRÓPRIA SOCIEDADE DE CONSUMO. ELA ELEVA A MERCADORIA A IMPERATIVO CATEGÓRICO QUE REGE AS DINÂMICAS QUE ORIENTAM AS RELAÇÕES SOCIAIS.

  

EM A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO, OBRA EMBLEMÁTICA DE GUY DEBORD. REFLETE SOBRE O CENÁRIO DE ESPETACULARIZAÇÃO DA VIDA NO FINAL DOS ANOS 1960, PROPÕE UMA TEORIA SOBRE O VALOR DA MERCADORIA NA SOCIEDADE DE CONSUMO. NO MUNDO DA MERCADORIA, A INDUSTRIALIZAÇÃO AUTOMATIZA O TRABALHO PARA AUMENTAR A PRODUÇÃO E DIMINUI A PARTICIPAÇÃO DO TRABALHADOR NA ESCALA SOCIAL. PARA MANTER O TRABALHO COMO MERCADORIA E INSTÂNCIA DE SUA CRIAÇÃO, NOVOS EMPREGOS DEVEM SER CRIADOS. O SETOR DE SERVIÇOS RESPONDE PELA DISTRIBUIÇÃO E A PROMOÇÃO DAS MERCADORIAS, QUE SÃO GERADAS PELA "PRÓPRIA ARTIFICIALIDADE DAS NECESSIDADES RELACIONADAS A TAIS MERCADORIAS" (DEBORD, 1997, P.32)


JÁ ANNE CAUQUELIN APONTA QUE "EM TODA SOCIEDADE DE CONSUMO, O NÚMERO DE INTERMEDIÁRIOS AUMENTA E É ACOMPANHADO DA FORMAÇÃO DE UM CÍRCULO DE PROFISSIONAIS, VERDADEIROS MANAGERS" (CAUQUELIN, 2005, P.55). AO BUSCAR NESSAS REFLEXÕES POSSIBILIDADES DE RELACIONÁ-LAS COM O CONTEXTO DA REALIDADE BRASILEIRA, É POSSÍVEL ENCONTRAR A CONSTITUIÇÃO OFICIAL DE UM SEGMENTO DE PROFISSIONAIS LIGADOS À PRODUÇÃO NO EMERGENTE SEGMENTO CULTURAL. SÃO RESPONSÁVEIS PELA ARTICULAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA - OS MANAGERS DAS ATIVIDADES CULTURAIS - DOS QUAIS ALGUNS CONVERTEM A CRIAÇÃO ARTÍSTICA EM MERCADORIA DE ENTRETENIMENTO NOS NOVOS ESPAÇOS ORIENTADOS PELA LÓGICA DO MERCADO. É INTEGRANDO O SETOR DE SERVIÇOS QUE O PROFISSIONAL DE PRODUÇÃO CULTURAL VAI EMERGIR NOS ANOS 1970, PERÍODO EM QUE É INSERIDO NA ESTRUTURA DO SISTEMA TRABALHISTA EM FACE DE REIVINDICAÇÕES DE UMA PARTE DA CATEGORIA ENVOLVIDA COM A ÁREA. ENQUADRAMENTO VIA DECRETO-LEI N° 82.385 DE 5/OUT/1978 QUE VEIO PARA REGULAMENTAR A LEI N° 6.533 DE 24/MAIO/1978 ASSINADA PELO PRESIDENTE ERNESTO GEISEL, QUE DISPÕE SOBRE AS ATRIBUIÇÕES DO TÉCNICO EM ESPETÁCULOS DE DIVERSÕES.

link da lei: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/D82385.htm

TAL DOCUMENTO É CITADO POR SER UM INSTRUMENTO LEGAL PUBLICADO PELO ESTADO NO SENTIDO DE REGULAMENTAR A ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL DE PRODUÇÃO. É DE EXTREMO VALOR NA REFLEXÃO POR SER A ORIGEM DO PRODUTOR CULTURAL ATUANTE NA ÁREA DOS ESPETÁCULOS E DOS EVENTOS, NO QUAL AS EXPOSIÇÕES DE ARTE CONTEMPORÂNEA VÃO SE INSCREVER GRADATIVAMENTE. PERÍODO DE UMA NOVA REALIDADE ECONÔMICA OS ANOS 1970 OFERECEM CONDIÇÕES QUE IMPULSIONAM A PRODUÇÃO ARTÍSTICA E FAZEM DO DECRETO CITADO UM DOS SINTOMAS DA NOVA PERSPECTIVA PARA ONDE SE DIRECIONARÁ O MERCADO CULTURAL BRASILEIRO NAS DÉCADAS SEGUINTES. CADA VEZ MAIS AS DIFERENTES FORMAS DA CRIAÇÃO ARTÍSTICA RECEBEM VISIBILIDADE EM DISPOSITIVOS DE AMPLA ABRANGÊNCIA E CIRCULAÇÃO, COMO OS EVENTOS CULTURAIS DE GRANDE PORTE QUE PASSAM A SER ROTINEIROS NA ATUALIDADE. O PRODUTOR CULTURAL É UMA DAS PEÇAS-CHAVE NA REDEFINIÇÃO DO ESTATUTO DOS BENS SIMBÓLICOS, CUJO CARÁTER DE ESPETACULARIZAÇÃO VAI SER INCORPORADO ÀS MANIFESTAÇÕES DAS ARTES VISUAIS, TAL COMO PODE SER VISTO EM MEGAEVENTOS QUE OCUPAM AS AGENDAS DE DIFERENTES ESPAÇOS CULTURAIS.EM RELAÇÃO À ARTE CONTEMPORÂNEA, O PRODUTOR CULTURAL ESTÁ IMPLICADO COM A VALORAÇÃO DO OBJETO ARTÍSTICO MAIS COMO

  • PRODUTO DE EVENTO DO QUE
  • DE VENDA EM AMBIENTES COMERCIAIS
ASSUNTO DEBATIDO COM MAIS PROFUNDIDADE POR BRUNA FETTER NO ÚLTIMO CAPÍTULO. COMO SE DÁ O EMPRESARIAMENTO DAS ARTES VISUAIS? COMO ATUA O PRODUTOR ENQUANTO AGENCIADOR DE EVENTOS?
  • DESTACAR A EVOLUÇÃO DO MERCADO DE ARTE E SUA INSERÇÃO NO CAMPO DE PRODUÇÃO CULTURAL.
*POSSÍVEIS CAMPOS DE FORMAÇÃO DO PRODUTOR CULTURAL.

IMPORTANTE ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA DE ARTE COMO PARTE DO PROCESSO DE CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA CULTURAL NO BRASIL (ANOS 1970 E 1980)  - TESE DE MARIA AMÉLIA BULHÕES. QUESTÕES RELATIVAS AO CONTEXTO PROFISSIONAL DA ÉPOCA.


"OCORREU ASSIM A PROFISSIONALIZAÇÃO DO QUE HOWARD BECKER DENOMINA PESSOAL DE APOIO, ESTRUTURANDO-SE AS CADEIAS DE ATIVIDADES QUE CARACTERIZAM AS AÇÕES ARTÍSTICAS DE CONSUMO. EM TERMOS DE MÚSICA E TEATRO APARECEM EMPRESAS DE PRODUÇÃO DE ESPETÁCULOS, ESTRUTURADAS DE MANEIRA A FAZER DESTAS ARTES ATIVIDADES LUCRATIVAS. TODO UM SISTEMA DE EDITORAÇÃO PASSA A COORDENAR O SETOR DA LITERATURA, DEFININDO OS RUMOS DA PRODUÇÃO. ESTAS EMPRESAS, ESTRUTURADAS NOS MAIS MODERNOS MÉTODOS ADMINISTRATIVOS, CRIAM NOVAS CONDIÇÕES DE DIFUSÃO DAS ARTES, CARACTERIZADAS PELOS ESTREITOS LAÇOS COM OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSAS." (BULHÕES, 1990, P.88)

A MESMA TENSÃO QUE PRODUZIU RESULTADOS POLÍTICOS, NÃO ENCONTROU ECO JUNTO AOS PROFISSIONAIS QUE TRABALHAVAM COM A PRODUÇÃO PLÁSTICA. O TEOR DO DECRETO-LEI (82.385/1978) FICA CIRCUNSCRITO AO UNIVERSO DOS ESPETÁCULOS CÊNICOS E MUSICAIS, NADA TENDO A CONTRIBUIR COM AS ESPECIFICIDADES QUE CONDICIONAM A CIRCULAÇÃO DAS ARTES VISUAIS. PRÓPRIA NOMENCLATURA DO DOCUMENTO. FATORES QUE PODEM EXPLICAR UMA POSSÍVEL FALTA DE MOBILIZAÇÃO DOS ENVOLVIDOS COM AS ARTES VISUAIS NO PROCESSO DE CONQUISTAS POLÍTICAS:

  • CONSTITUIÇÃO DO MERCADO DE ARTE
  • ENTRE 1960 E 1970 RESULTADOS DE UMA MODERNIZAÇÃO (CONSERVADORA) DA POLÍTICA CULTURAL DO REGIME MILITAR
  • VIGOROSO PROJETO DE INDUSTRIALIZAÇÃO DO PAÍS
NESSE CONTEXTO: CONDIÇÕES PARA CONSOLIDAÇÃO DA INDÚSTRIA CULTURAL MASSIVA, AMBIENTE EM QUE AS ARTES VISUAIS PERMANECERAM MENOS INSERIDAS, EM COMPARAÇÃO COM OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS. SUA DIFÍCIL INTEGRAÇÃO EM CIRCUITOS DE AMPLA DISTRIBUIÇÃO: MÚSICA, CINEMA COMERCIAL, PRODUÇÃO TELEVISIVA. OUTRO ASPECTO: PROFISSIONALIZAÇÃO DA ÁREA. A ORGANIZAÇÃO DOS EVENTOS DAS ARTES VISUAIS FICAVA A ENCARGO DOS PRÓPRIOS ARTISTAS E MARCHANDS. NA ÉPOCA INEXISTIAM AS FIGURAS, ENTRE TANTAS OUTRAS, IMPRESCINDÍVEIS PARA A REALIZAÇÃO DE UM EVENTO DESSA NATUREZA ATUALMENTE:
  • CURADOR
  • MUSEÓGRAFO
  • PROGRAMADOR VISUAL
  • MONTADOR
  • EMBALADOR
  • TRANSPORTADOR
  • PRODUTOR CULTURAL
EXEMPLO: BIENAL DE SÃO PAULO, SE UTILIZOU DE ESTUDANTES E ARTISTAS, BEM COMO DAS DAMAS VOLUNTÁRIAS, PARA O DESEMPENHO DESSAS FUNÇÕES SEM NENHUMA ESPÉCIE DE REMUNERAÇÃO.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Introdução parte 1 - Sergio Miceli (leitura sistematizada)

CRÍTICAS DE BOURDIEU À HERMENÊUTICA ESTRUTURALISTA. NÃO CHEGA À POSIÇÃO EXTREMA DE LÉVI-STRAUSS NO TOCANTE À POSTURA KURKHEIMIANA, A NOÇÃO QUE ENXERGA OS SISTEMAS SIMBÓLICOS ENQUANTO ESTRUTURAS ESTRUTURADAS, LIGA-SE À NOÇÃO DE FORMA PRIMITIVA DE CLASSIFICAÇÃO
  • CLASSIFICAÇÃO = TERMOS DE UMA OPERAÇÃO LÓGICA QUE CONSISTE EM HIERARQUIZAR AS COISAS DO MUNDO SENSÍVEL EM GRUPOS E GÊNEROS CUJA DELIMITAÇÃO APRESENTA UM CARÁTER ARBITRÁRIO. 
  • HIERARQUIA = ENTRE AS COISAS AGRUPADAS NUMA DADA CLASSE, TEM MUITO MAIS O SENTIDO DE UMA ORDEM CUJOS FUNDAMENTOS DEVEM SER BUSCADOS FORA DO SISTEMA CLASSIFICATÓRIO.
SEGUNDO DURKHEIM, A CLASSIFICAÇÃO DAS COISAS REPRODUZ A CLASSIFICAÇÃO DOS HOMENS. A ORGANIZAÇÃO SOCIAL CONSTITUI A BASE E O FUNDAMENTO ÚLTIMO DO SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DAS COISAS. JÁ TRANSPARECE UMA DIVERGÊNCIA DE PESO. PARA O FUNDADOR O SISTEMA CLASSIFICATÓRIO NÃO DEVE SER CONSIDERADO À MANEIRA DE UM SISTEMA SIMBÓLICO QUE TRANSFIGURA E DISSIMULA AS RELAÇÕES REAIS QUE SE DÃO ENTRE OS HOMENS,GUARDANDO COM O SISTEMA SOCIAL UMA RELAÇÃO DE ÍNTIMA CORRESPONDÊNCIA. PARA DURKHEIM, O SISTEMA LÓGICO REPRODUZ DE PERTO O SISTEMA SOCIAL - REPRODUÇÃO FIEL COM LÉXICOS [DICIONÁRIO DE LÍNGUAS CLÁSSICAS ANTIGAS, RELATIVO À VOCABULÁRIO] PRÓPRIOS MAS TENDO UM MESMO REFERENTE: AS RELAÇÕES DE EXCLUSÃO/ INCLUSÃO, DISTÂNCIA/PROXIMIDADE, ASSOCIAÇÃO/DISSOCIAÇÃO QUE INFORMAM A HIERARQUIA ENTRE AS DIVERSAS CLASSES DE SERES. RECOBREM O ARCABOUÇO DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL REPARTIDA EM FATIAS, CLÃS E OUTROS AGRUPAMENTOS MENORES QUE RESULTAM DE PROCESSOS DE SEGMENTAÇÃO

IDEIA DE QUE "TODA CLASSIFICAÇÃO IMPLICA UMA ORDEM HIERÁRQUICA" JÁ SE FAZ PRESENTE EM DURKHEIM E É NESSE SENTIDO QUE SE DEVE ENTENDER A AFIRMAÇÃO DE BOURDIEU: "A CULTURA CLASSIFICA E CLASSIFICA OS CLASSIFICADORES (...) ESTABELECE UMA OPOSIÇÃO ENTRE AS COISAS CONSIDERADAS COMO OBJETOS DIGNOS DE SEREM PENSADOS (...) E AQUELAS CONSIDERADAS INDIGNAS DA CONVERSAÇÃO E DO PENSAMENTO, O IMPENSÁVEL OU INDIGNO DE SER MENCIONADO."

AO INVÉS DE ENTENDER O SISTEMA SIMBÓLICO COMO A REPRESENTAÇÃO ALEGÓRICA DO MUNDO NATURAL E SOCIAL DIVIDIDO EM TERMOS DE CLASSES ANTAGÔNICAS, E CUMPRINDO SUA FUNÇÃO POLÍTICO-IDEOLÓGICA DE LEGITIMAR UMA ORDEM ARBITRÁRIA, DURKHEIM AFIRMA QUE O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO CONFIGURA UMA ORDEM LÓGICA QUE RECOBRE A ORDEM SOCIAL (E RECOBRE NO SENTIDO LITERAL DE REVESTIR) IMPONDO-SE SOBRE O AGENTE E REGULANDO NÃO APENAS A APROPRIAÇÃO DOS SÍMBOLOS MAS TAMBÉM FORNECENDO AS REGRAS E OS MATERIAIS SIGNIFICANTES COM QUE OS GRUPOS DÃO SENTIDO ÀS SUAS PRÁTICAS. OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO CONSTITUEM REPRESENTAÇÕES COLETIVAS CUJAS DIVISÕES INTERNAS REMETEM ÀS DIVISÕES MORFOLÓGICAS DO GRUPO COMO UM TODO. 
  • A ORGANIZAÇÃO SOCIAL EFETIVA É AQUELA QUE O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO SUGERE
  • OU A CULTURA NESSAS SOCIEDADES NÃO CONSTITUI PROPRIAMENTE UM SISTEMA SIMBÓLICO.
O ESFORÇO DE DURKHEIM EM ENCONTRAR OS FUNDAMENTOS SOCIAIS DO SIMBOLISMO NÃO SE COMPLETA PORQUE, VIA DE REGRA, REFERE UM SISTEMA CLASSIFICATÓRIO A UM OUTRO COM A DIFERENÇA DE QUE ESTE ÚLTIMO NOMEIA MAIS DE PERTO O QUE OS AGENTES RECONHECEM COMO SENDO SEU SISTEMA SOCIAL VIVIDO. A CULTURA RESTRINGE-SE ENTÃO À SUA FUNÇÃO DE INTEGRAÇÃO LÓGICA E MORAL REPRODUZINDO, COM MATERIAIS SIGNIFICANTES PRÓPRIOS, A CLASSIFICAÇÃO SOCIAL QUE REPARTE OS HOMENS PELA HIERARQUIA. A SOCIEDADE-SUJEITO CONSTITUI, O FUNDO COMUM QUE ARTICULA O SISTEMA SOCIAL E O SISTEMA LÓGICO. TANTO PELA FUNÇÃO QUE LHE ATRIBUI COMO PELA TEORIA DO CONSENSO AÍ IMPLICADA, DURKHEIM ELIMINA A PROBLEMÁTICA DA DOMINAÇÃO. PARA BOURDIEU, A ORGANIZAÇÃO DO MUNDO E A FIXAÇÃO DE UM CONSENSO E SEU RESPEITO CONSTITUI UMA FUNÇÃO LÓGICA NECESSÁRIA QUE PERMITE À CULTURA DOMINANTE UMA DADA FORMAÇÃO SOCIAL CUMPRIR SUA FUNÇÃO POLÍTICO-IDEOLÓGICA DE LEGITIMAR E SANCIONAR UM DETERMINADO REGIME DE DOMINAÇÃO. O CONSENSO TORNOU-SE A ILUSÃO PRIMEIRA A QUE CONDUZ QUALQUER SISTEMA DE REGRAS CAPAZES DE ORDENAR OS MATERIAIS SIGNIFICANTES DE UM SISTEMA SIMBÓLICO. EM DURKHEIM, A FUNDAMENTAÇÃO EMPÍRICA DA TEORIA DO CONSENSO SE PREOCUPA EM MOSTRAR QUE AS DIVISÕES INTERNAS POR QUE PASSAM OS DIVERSOS GRUPOS SÃO RECUPERADAS NUMA SITUAÇÃO DE EQUILÍBRIO. A DIVERSIDADE DAS REGRAS E DOS SIGNIFICADOS NÃO AMEAÇA A IMAGEM MAIS ALTA DO GRUPO COMO UM TODO UNIFICADO. DURKHEIM FAZ QUESTÃO DE FRISAR A AUSÊNCIA DE UMA HIERARQUIA DE DOMINAÇÃO/SUBORDINAÇÃO ENTRE OS CLÃS. A RIGOR, SUA NOÇÃO DE HIERARQUIA POSSUI O SENTIDO DE UMA ORDEM LÓGICA IMPOSTA ÀS DIVISÕES POR QUE PASSA O MUNDO SENSÍVEL EM SUAS DIVERSAS ESPÉCIES E GÊNEROS.

OUTRO PONTO REELABORADO POR BOURDIEU DIZ RESPEITO ÀS REPRESENTAÇÕES INDIVIDUAIS. MENÇÃO ÀS REPRESENTAÇÕES QUE O AGENTE POSSUI ACERCA DAS RELAÇÕES QUE OS GRUPOS DE COISAS ASSIM CLASSIFICADAS MANTÊM UNS COM OS OUTROS. EM ALGUNS CASOS, O AGENTE AS CONCEBE SOB A FORMA DE RELAÇÕES DE PARENTESCO CUJO QUADRO DE REFERÊNCIA É O PRÓPRIO INDIVÍDUO. AS VEZES, TAIS RELAÇÕES SÃO PENSADAS SOB A FORMA DE POSSUIDORES E POSSUÍDOS. LOGO, NO PLANO DAS REPRESENTAÇÕES INDIVIDUAIS OS AGENTES PODEM VIVER OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO SOB A FORMA DE RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO. DURKHEIM TRANSFERE A QUESTÃO DA POSSE E DA PROPRIEDADE AO PLANO DO SISTEMA DE FATOS, TORNA-SE UM ITEM DO PRÓPRIO SISTEMA CLASSIFICATÓRIO. UM TERCEIRO TIPO DE REPRESENTAÇÃO SERIA AQUELE EM QUE O AGENTE DESENVOLVE UMA EXPERIÊNCIA DA HIERARQUIA DAS COISAS NUMA ORDEM EXATAMENTE INVERSA, OU SEJA, SÃO AS MAIS DISTANTES QUE CONSIDERA COMO SENDO AS MAIS IMPORTANTES.SE PUDESSE ENTENDER ESTE CASO SEGUNDO UM MODELO SEMELHANTE AO ESQUEMA WEBERIANO DA LEGITIMIDADE, NÃO FOSSE A SENTENÇA DE QUE "NA VERDADE, AS COISAS MAIS ESSENCIAIS AO INDIVÍDUO NÃO SÃO AS MAIS PRÓXIMAS A ELE, AS QUE SE REFEREM DE MODO MAIS IMEDIATO A SUA PESSOA INDIVIDUAL, UMA VEZ QUE A ESSÊNCIA DO HOMEM É A HUMANIDADE." COMO O TEXTO NÃO OFERECE REFERÊNCIAS EMPÍRICAS A RESPEITO DAS CONDIÇÕES ECONÔMICAS E POLÍTICAS, TORNA-SE IMPOSSÍVEL VERIFICAR EM QUE MEDIDA O SISTEMA CLASSIFICATÓRIO CUMPRE FUNÇÕES NÃO-LÓGICAS, ISTO É, PROPRIAMENTE POLÍTICAS. NÃO HAVENDO UMA DEFINIÇÃO RIGOROSA E EXAUSTIVA DO QUE ENTENDE POR ORGANIZAÇÃO SOCIAL, TUDO SE PASSA COMO SE DURKHEIM TIVESSE A PREOCUPAÇÃO DE ENTENDER O SISTEMA CLASSIFICATÓRIO EM TERMOS DE UMA REPARTIÇÃO DE SÍMBOLOS QUE PROPICIAM UMA IDENTIDADE NO INTERIOR DO GRUPO, NUM ESTÁGIO DE CIVILIZAÇÃO MUITO PRESO A UMA CARGA AFETIVA E MORAL. DIVERSAMENTE DE LÉVI-STRAUSS, LIDA COM OS DOIS SISTEMAS A QUE CORRESPONDEM DOIS MODELOS SOBRE AS INÚMERAS AMBIGÜIDADES E OMISSÕES DO TEXTO. SE PUDESSE ENTENDER A PROPOSTA DE ANÁLISE DURKHEIMIANA DE OUTRO MODO; COM EFEITO CONSEGUE SUBLINHAR A UNIDADE PROFUNDA QUE PERMEIA TODOS OS SISTEMAS SIMBÓLICOS DE UMA DETERMINADA FORMAÇÃO, ISTO É, O CONJUNTO DOS APARELHOS DE PRODUÇÃO SIMBÓLICA QUE CONSTITUEM A CULTURA OBEDECE A UM MESMO PRINCÍPIO DIVISÓRIO, A UMA MESMA LÓGICA.DE OUTRO LADO, NÃO HAVERIA COMO DURKHEIM PRETENDE, UMA CORRELAÇÃO ENTRE AMBOS OS SISTEMAS, MAS TÃO SOMENTE UMA DUPLICAÇÃO, UMA EXTENSÃO REDUNDANTE ATRAVÉS DA QUAL SOMOS INFORMADOS DE QUE MANEIRA AS RELAÇÕES DE PARENTESCOS ENTRE OS TOTENS REPRODUZ A LÓGICA DAS RELAÇÕES ENTRE OS CLÃS. O SISTEMA CLASSIFICATÓRIO APARECE COMO O PRODUTO DE UM PENSAMENTO COLETIVO E CAPAZ DE CONFERIR ÀS PRÁTICAS UM CONTEÚDO DERIVADO DO SISTEMA. A NATUREZA É PARTILHADA ENTRE OS DEUSES DO PANTEÃO ASSIM COMO O UNIVERSO É REPARTIDO ENTRE OS CLÃS. NESTE MOVIMENTO, O SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO PODE ALCANÇAR MARGEM ELEVADA DE AUTONOMIA POIS, MUITAS VEZES, OBEDECE A UM RITMO SINGULAR INFENSO [EM OPOSIÇÃO] ÀS MUDANÇAS NO PLANO DA ORGANIZAÇÃO DO SOCIAL. NESTE PONTO O PROJETO HEURÍSTICO DE DURKHEIM SURGE EM SUA GRANDEZA E, POR QUE NÃO, EM SUA MISÉRIA. A ANÁLISE DOS SISTEMAS CLASSIFICATÓRIOS COLOCA-SE COMO O ESTUDO DE UMA ETAPA ANTERIOR DAS PRIMEIRAS CLASSIFICAÇÕES CIENTÍFICAS, AINDA QUE OS SISTEMAS ARCAICO E CIENTÍFICO GUARDEM INÚMEROS TRAÇOS COMUNS:
  • TRATA-SE DE SISTEMAS DE NOÇÕES HIERARQUIZADAS ONDE AS COISAS DISPOSTAS EM GRUPOS MANTÊM ENTRE SI RELAÇÕES BEM DEFINIDAS CUJO CONJUNTO COMPÕE UM ÚNICO TODO.
  • AMBOS CONSTITUEM UM INSTRUMENTO DE CONHECIMENTO E COMUNICAÇÃO PELO QUAL A SOCIEDADE CONFERE UM SENTIDO UNITÁRIO AO UNIVERSO, OU SEJA, FAZEM COMPREENDER E TORNAM INTELIGÍVEIS AS RELAÇÕES QUE EXISTEM ENTRE OS SERES.
  • AMBOS DEPENDEM DE CONDIÇÕES SOCIAIS, POIS, NA VERDADE, SÃO AS RELAÇÕES SOCIAIS ENTRE OS HOMENS QUE SERVIRAM DE BASE E MODELO PARA AS RELAÇÕES LÓGICAS ENTRE AS COISAS. 
SE DEVE ENTENDER O CONCEITO DE RELAÇÕES SOCIAIS NO SENTIDO AMBÍGUO E INDETERMINADO JÁ REFERIDO. OS HOMENS NÃO CLASSIFICAM OS SERES VISANDO ENCOBRIR OU JUSTIFICAR AS RELAÇÕES QUE MANTÊM ENTRE SI. OS HOMENS CLASSIFICAM OS SERES POR UMA NECESSIDADE LÓGICA QUE TAMBÉM OS LEVA A PENSAR EM SUA EXISTÊNCIA EM TERMOS DE GRUPAMENTOS E DIVISÕES. TODAVIA, SE A TOTALIDADE DAS COISAS É CONCEBIDA COMO UM SISTEMA UNO, É PORQUE A PRÓPRIA SOCIEDADE É CONCEBIDA DA MESMA MANEIRA. ELA É UM TODO, OU MELHOR, ELA É O TODO ÚNICO EM RELAÇÃO AO QUAL TUDO ESTÁ REFERIDO. EMBORA OS LIAMES [VÍNCULOS] LÓGICOS POSSAM ASSUMIR O SENTIDO DAS RELAÇÕES DOMÉSTICAS, FAMILIARES, EMBORA POSSAM SURGIR COMO RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO/SUBORDINAÇÃO ECONÔMICA OU POLÍTICA, CONSTITUEM SEMPRE ESTADOS DA ALMA COLETIVA. 
A CLASSIFICAÇÃO LÓGICA É UMA FORMA PRIMITIVA DE UMA ORDENAÇÃO DO UNIVERSO ATRAVÉS DE CONCEITOS, MAS JÁ CONSTITUIU UM ESTÁGIO MAIS COMPLEXO DO QUE O ESTÁGIO PURAMENTE AFETIVO. A FORMA PRIMITIVA DE CLASSIFICAÇÃO SE COLOCA NO MESMO PLANO DO CONCEITO E, JUNTO COM ELE, SE OPÕE À EMOÇÃO. A CLASSIFICAÇÃO NÃO PASSA DE UMA CATEGORIA DO ENTENDIMENTO E A HISTÓRIA DA CLASSIFICAÇÃO CIENTÍFICA NÃO É SENÃO A HISTÓRIA DAS ETAPAS NO CURSO DAS QUAIS SE DEU O ENFRAQUECIMENTO PROGRESSIVO DO ELEMENTO AFETIVIDADE EM FAVOR DAS CATEGORIAS PRÓPRIAS DO ENTENDIMENTO. NATURALMENTE O ÚLTIMO ALVO DE DURKHEIM É  FUNDAMENTAR EMPIRICAMENTE AS CATEGORIAS A PRIORI DO ENTENDIMENTO HUMANO SEGUNDO O PROGRAMA DA FILOSOFIA KANTIANA. A DESPEITO [HUMILHAÇÃO, DESFEITA] DE TODAS AS DIFERENÇAS NA ABORDAGEM, BOURDIEU RETÉM A IDEIA CENTRAL DO TEXTO, A SABER, A ORGANIZAÇÃO INTERNA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO OBEDECE A UM MODELO FORNECIDO PELA SOCIEDADE. E AINDA QUE NÃO CONCEDA O MESMO GRAU DE AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA A TAIS SISTEMAS, ACOLHE O ENFOQUE DOS SISTEMAS SIMBÓLICOS COMO SE FOSSEM LINGUAGENS DOTADAS DE UMA LÓGICA PRÓPRIA. A TRADIÇÃO SOCIOLÓGICA FRANCESA ENCARA O FATO SOCIAL COMO COISA E REPRESENTAÇÃO, POR ISSO TRATA-SE DE UMA INDAGAÇÃO OCIOSA SABER SE SÃO AS IDEIAS QUE DERAM ORIGEM ÀS SOCIEDADES OU SE FORAM ESTAS QUE DERAM EXISTÊNCIA ÀS REPRESENTAÇÕES.BOURDIEU RECUSA-SE A TORNAR O AGENTE SOCIAL MERO SUPORTE DAS ESTRUTURAS INVESTIDAS DO PODER DE DETERMINAR OUTRAS ESTRUTURAS E INSTITUI COMO OBJETO AS LEIS SEGUNDO AS QUAIS AS ESTRUTURAS TENDEM A SE REPRODUZIR PRODUZINDO OS AGENTES DOTADOS DO SISTEMA DE DISPOSIÇÕES CAPAZ DE ENGENDRAR PRÁTICAS ADAPTADAS ÀS ESTRUTURAS E CONTRIBUINDO, POR ESTA VIA, PARA REPRODUZIR TAIS ESTRUTURAS.
TAL POSTURA CONTÉM UMA CRÍTICA IMPLÍCITA QUE SE PODE APLICAR TANTO ÀS CORRENTES QUE ABSOLUTIZAM O PONTO DE VISTA MANIFESTADO PELO AGENTE. EM VIRTUDE DOS MALABARISMOS PARA EXORCIZAR O HISTORICISMO, POULANTZAS REJEITA QUALQUER CONCEPÇÃO QUE TORNE A LUTA DE CLASSES O ELEMENTO DINÂMICO-DIACRÔNICO DO SISTEMA DE ESTRUTURAS.
A MEDIAÇÃO OPERADA PELO AGENTE TENDO EM VISTA A REPRODUÇÃO SOCIAL ASSOCIA-SE AO PAPEL ESTRATÉGICO QUE O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO DESEMPENHA ATRAVÉS DAS AGÊNCIAS EDUCATIVAS, SEJA O SISTEMA DE ENSINO, SEJA OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA, SEJA A INCULCAÇÃO FAMILIAR. A ÊNFASE RECAI PORTANTO NO PROCESSO DE MOLDAGEM POR QUE PASSA O AGENTE A FIM DE INCORPORAR OS PRINCÍPIOS E AS SIGNIFICAÇÕES DE UM DETERMINADO ARBITRÁRIO CULTURAL. PARA MUITOS, OS AGENTES NÃO VIVEM OUTRA COISA A NÃO SER AS SUAS PRÓPRIAS REPRESENTAÇÕES, DE ONDE DERIVAM A POSIÇÃO E O PESO DE CADA ELEMENTO DO MUNDO FÍSICO E SOCIAL. ENTRETANTO, SEM CHEGAR A ESSE EXTREMO, DEVE-SE-LHES CONCEDER UM GRAU MÍNIMO DE CONSCIÊNCIA E DOMÍNIO PRÁTICO QUE LHES PERMITA AO MENOS EXECUTAR ATOS E RITUAIS CUJO SENTIDO COMPLETO LHES ESCAPA. DO PONTO DE VISTA DO AGENTE, E TÃO-SOMENTE EM CERTA MEDIDA, O MUNDO É O QUE CONSTA DE SEU UNIVERSO DE REPRESENTAÇÕES, AS QUAIS DEVEM FORÇOSAMENTE SER INCORPORADAS À CONSTRUÇÃO DO OBJETO A CARGO DO OBSERVADOR. NA OBRA DE MAUSS: DESDE A CARACTERIZAÇÃO DO ATO SOCIAL INSPIRADO POR UM SENTIDO, POR UMA REPRESENTAÇÃO (NO CONTEXTO TEÓRICO DE MAUSS), O QUE ALIÁS NÃO ESTÁ LONGE DA CONCEPÇÃO DE WEBER. NOÇÃO DE AÇÃO SOCIAL E RELAÇÃO SOCIAL EM WEBER. ELEMENTOS COMUNS ENTRE MAUSS E WEBER NO TOCANTE À NOÇÃO DE AÇÃO SOCIAL. MAS AS REPRESENTAÇÕES POSSUEM UMA EXISTÊNCIA MATERIAL E EM GERAL, TRADUZEM-SE EM ATOS E PRÁTICAS. O PROBLEMA DO SIMBOLISMO PASSA POR UMA RETIFICAÇÃO DE PERSPECTIVA, A SOCIEDADE É DEFINIDA COMO UM SISTEMA DE RELAÇÕES ONDE CADA ELEMENTO TRAZ UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O TODO.É PRECISO CLASSIFICAR OS FENÔMENOS SOCIAIS SEGUNDO DIFERENTES CATEGORIAS QUE, EM ÚLTIMA ANÁLISE,  CORRESPONDEM AOS DIVERSOS TIPOS DE ARRANJO INSTITUCIONAL. POR ESSA VIA MAUSS PROPÕE UMA SEGUNDA REGIONALIZAÇÃO, DE CARÁTER OPERACIONAL, QUE VISA CONSTRUIR UM OBJETO PASSÍVEL DE ANÁLISE EMPÍRICA CONCRETA. A REGIONALIZAÇÃO INICIAL DE ONDE PARTE DURKHEIM ESTABELECE UMA DISTINÇÃO ENTRE

  • OS FATOS SOCIAIS
  • OS FATOS PSÍQUICOS
  • OS FATOS ORGÂNICOS
ESTE ESTUDO DOS GRUPOS SECUNDÁRIOS, DOS MEIOS DE QUE SE COMPÕEM O MEIO TOTAL, A SOCIEDADE, O ESTUDO DE SUAS VARIAÇÕES, ALTERAÇÕES, DE SUAS AÇÕES RECÍPROCAS E REAÇÕES CONSTITUI UMA DAS COISAS MAIS URGENTES. MUITO MAIS DO QUE NA PRÁTICA SOCIAL, QUE SE CONSTATA A VIDA VERDADEIRA, AO MESMO TEMPO MATERIAL E MORAL, O COMPORTAMENTO DO GRUPO. AS DIFERENTES MODALIDADES INSTITUCIONAIS (RELIGIÃO, DIREITO ETC) CORRESPONDEM A DIFERENTES PONTOS DE VISTA ACERCA DA VIDA SOCIAL TOTAL. A PREOCUPAÇÃO COM O PROBLEMA DAS CONDIÇÕES DE COMPARABILIDADE LEVA AO ESTUDO DE FATOS PASSÍVEIS DE SEREM AGRUPADOS EM GÊNEROS E QUE DEVEM EXIBIR INDICADORES EMPÍRICOS MANIFESTOS. AS RAZÕES QUE JUSTIFICAM UM RECORTE CUJOS CRITÉRIOS PARECEM QUASE SEMPRE LIGADOS A UM PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO ENCONTRAM SEU FUNDAMENTO EM PROCESSOS HISTÓRICOS AO FIM DOS QUAIS DETERMINADOS ÂMBITOS DA REALIDADE SOCIAL SURGEM AUTONOMIZADOS. DANDO ALGUMAS VEZES A IMPRESSÃO DE QUE OS DIVERSOS NÍVEIS DE REALIDADE CORRESPONDEM ÀS MÚLTIPLAS FUNÇÕES TÉCNICAS
  • TANTO NO PLANO DA DIVISÃO DO TRABALHO MATERIAL COMO
  • NO PLANO DA DIVISÃO DO TRABALHO SIMBÓLICO
SEGUNDO MAUSS, A ORIGEM DESSES PONTOS DE VISTA QUE ACABAM POR CONSTITUIR DOMÍNIOS ESPECÍFICOS DA REALIDADE, RESULTA DO ESTADO HISTÓRICO DAS CIVILIZAÇÕES DE QUE TAMBÉM É PRODUTO NOSSA CIÊNCIA SOCIOLÓGICA. A SEPARAÇÃO E A DISTINÇÃO DE UM DOMÍNIO DA REALIDADE SE EFETIVA NO MOMENTO EM QUE TAL SUCEDE NA PRÁTICA E NO PENSAMENTO DE UMA DADA SOCIEDADE. OS PONTOS DE VISTA PASSÍVEIS DE SEREM ADOTADOS PELA CIÊNCIA DERIVAM DA DIVISÃO DO TRABALHO E DO PROCESSO DE ESPECIALIZAÇÃO CRESCENTE. BOURDIEU SUBSCREVERIA A AFIRMAÇÃO DE QUE "TODA ATIVIDADE SOCIAL QUE, EM UMA SOCIEDADE, CRIOU PARA SI MESMA UMA ESTRUTURA E À QUAL UM GRUPO DE HOMENS SE DEDICOU DE MANEIRA ESPECIAL, CORRESPONDE SEGURAMENTE A UMA NECESSIDADE DA VIDA DESSA SOCIEDADE" (MARCEL MAUSS). OS DIVERSOS NÍVEIS INSTITUCIONAIS E OS DIFERENTES GRUPOS ESPECIALIZADOS CORRESPONDEM A UMA DADA FUNÇÃO, A UM DETERMINADO OBJETIVO. EM GRAMSCI É POSSÍVEL ENCONTRAR INDICAÇÕES NO MESMO SENTIDO. QUANDO SE REFERE AO CONCEITO DE CLASSE SOCIAL, PROCURA DISTINGUI-LO DO CONCEITO DE GRUPO.AS REFERÊNCIAS QUE ATÉ AGORA VIMOS FAZENDO ENVOLVEM EM GERAL TEXTOS DO PERÍODO EM QUE COLABOROU DE MODO ESTREITO COM DURKHEIM. NÃO É DE ESTRANHAR, QUE INCORPORE QUASE QUE EM ESTADO PURO OS POSTULADOS E O PROGRAMA CIENTÍFICO DO FUNDADOR.CONTUDO, OS TRABALHOS DO ÚLTIMO PERÍODO DA ATIVIDADE CIENTÍFICA DE MAUSS, SEM CHEGAREM A REJEITAR O LEGADO DE DURKHEIM, INTRODUZEM UMA PROBLEMÁTICA QUE A SOCIOLOGIA DE CORTE ESTRUTURALISTA PROCUROU EMPALMAR. 

domingo, 7 de fevereiro de 2016

A economia das trocas simbólicas - Pierre Bourdieu (leitura sistematizada) - Introdução Sergio Miceli, Fevereiro 1973

A FORÇA DO SENTIDO

ESTUDO DA IDEOLOGIA E DA CULTURA. OBJETOS CRUCIAIS DAS CIÊNCIAS HUMANAS. CORRENTES TEÓRICAS, MÉTODOS DE ANÁLISE SURGIDOS NA EUROPA E NOS EUA. DESDE ETNOCIÊNCIA, ETNOMETODOLOGIA, INTERACIONALISMO SIMBÓLICO, RELEITURA DAS OBRAS DE GRAMSCI, CORRENTE ALTHUSSERIANA (LOUIS ALTHUSSER), SOCIOLOGIA SEMIOLÓGICA (ELISEU VERÓN), SOCIOLOGIA DOS SISTEMAS SIMBÓLICOS DE BOURDIEU. RELEITURA DOS CLÁSSICOS, PROBLEMÁTICA DA IDEOLOGIA COMO PREOCUPAÇÃO CENTRAL. CONFRONTO ENTRE DIFERENTES CONCEPÇÕES DE REALIDADE SOCIAL SOBRE A QUESTÃO DO SIMBOLISMO. REPOSTA PELA ANÁLISE ESTRUTURAL E INFLUÊNCIA DOS MODELOS LINGÜÍSTICOS E SEMIOLÓGICOS. REVISÃO ESTRUTURALISTA DO MARXISMO LEVADA A CABO PELOS ALTHUSSERIANOS: PRESENÇA DE UMA ORIENTAÇÃO FENOMENOLÓGICA SUBJACENTE EM TRABALHOS DESTA ÁREA NOS EUA. IMPORTÂNCIA E EFICIÊNCIA DE UMA TEORIA CIENTÍFICA: CAPACIDADE PARA FIXAR OS ELEMENTOS CONSTANTES DEIXANDO DE LADO A VARIEDADE DA APARÊNCIA.  NÃO PELO ENLEVO [DELEITE] COM O QUE HÁ DE CONSTANTE MAS COMO PASSO NECESSÁRIO DE UM PROJETO QUE ALMEJA TRANSFORMAR O EXISTENTE. PIERRE BOURDIEU: CRÍTICO ARGUTO [SAGAZ]  DA TENTAÇÃO PROFÉTICA/ TENTAÇÃO DO PROFETISMO. SEGUNDO BOURDIEU PODEMOS DISTINGUIR 2 POSTURAS PRINCIPAIS DENTRE AS ORIENTAÇÕES QUE LIDAM COM SISTEMAS DE FATOS E REPRESENTAÇÕES RECOBERTOS PELO CONCEITO DE CULTURA. 
  • A PROBLEMÁTICA KANTIANA E SEUS HERDEIROS: CASSIRER, SAPIR, DURKHEIM, LÉVI-STRAUSS. CONSIDERAM A CULTURA (E TODOS OS SISTEMAS SIMBÓLICOS-ARTE, MITO, LINGUAGEM) EM SUA QUALIDADE DE INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO E CONHECIMENTO RESPONSÁVEL PELA FORMA NODAL DE CONSENSO, INDEPENDENTEMENTE DO SIGNIFICADO DOS SIGNOS/ SIGNIFICADO DO MUNDO. LIMITAÇÃO GRAVE: PRIVILEGIAR A CULTURA COMO ESTRUTURA ESTRUTURADA, RELEGANDO AS FUNÇÕES ECONÔMICAS E POLÍTICAS DOS SISTEMAS SIMBÓLICOS. ENFATIZA A ANÁLISE INTERNA DOS BENS E MENSAGENS DE NATUREZA SIMBÓLICA. NÃO CONSEGUE DEIXAR DE SER UMA UMA TEORIA DA INTEGRAÇÃO LÓGICA E SOCIAL DE REPRESENTAÇÕES COLETIVAS. PARADIGMA: OBRA DE DUKHEIM. A INTENÇÃO CONSISTE EM LEVAR ÀS ÚLTIMAS CONSEQÜÊNCIAS O DESAFIO DE LÉVI-STRAUSS. EXPLORAR A DIMENSÃO SIMBÓLICA DO SOCIAL, A ÚNICA EM CONDIÇÕES DE INCORPORAR TODOS OS NÍVEIS DA REALIDADE.
  • DE OUTRO LADO, TENDE-SE A CONSIDERAR A CULTURA E OS SISTEMAS SIMBÓLICOS COMO UM INSTRUMENTO DE PODER E LEGITIMAÇÃO DA ORDEM VIGENTE. TRADIÇÃO MARXISTA E CONTRIBUIÇÃO DE MAX WEBER. ENXERGA A CULTURA COMO ESTRUTURA ESTRUTURANTE.A TRADIÇÃO MATERIALISTA SALIENTA O CARÁTER ALEGÓRICO DOS SISTEMAS SIMBÓLICOS NUMA TENTATIVA DE APREENDER SEU CARÁTER ORGANIZACIONAL PRÓPRIO (NÚCLEO DO PROJETO WEBERIANO) E AS DETERMINAÇÕES QUE SOFRE POR PARTE DAS CONDIÇÕES DE EXISTÊNCIA ECONÔMICA E POLÍTICA E A CONTRIBUIÇÃO SINGULAR QUE TAIS SISTEMAS TRAZEM PARA A REPRODUÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DA ESTRUTURA SOCIAL. 

ETNOMETODOLOGIA: ACESSO À CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE SE FAZ ATRAVÉS DO CONJUNTO DE REPRESENTAÇÕES TAL COMO SE MANIFESTAM NA CONSCIÊNCIA DO AGENTE (O QUE CONTRADIZ EM PONTOS CRUCIAIS ALGUMAS DAS EXIGÊNCIAS ESTRUTURALISTAS). TENDE A COLOCAR A QUESTÃO DOS SISTEMAS SIMBÓLICOS EM TERMOS DE MERA COMUNICAÇÃO, COMO SE OS AGENTES SOCIAIS FOSSEM SENHORES DOS SIGNIFICADOS QUE ELES MESMOS PRODUZEM E MOBILIZAM NO PROCESSO DE INTERAÇÃO. AO SE DISPOR A ENXERGAR A REALIDADE DO PONTO DE VISTA DO ATOR ESSE TRAJETO MINIMIZA OS ASPECTOS MACROSSOCIOLÓGICOS EM FAVOR DAS ESTRATÉGIAS DE INTERPRETAÇÃO,TIPIFICAÇÃO E ROTULAÇÃO A QUE O ATOR RECORRE NOS PROCESSOS INTERATIVOS COM QUE SE DEFRONTA. 
BOURDIEU RECONHECE A CONTRIBUIÇÃO DA CIÊNCIA ESTRUTURALISTA POIS PROPICIOU OS INSTRUMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS PARA DESCOBRIR A LÓGICA IMANENTE DE UM BEM SIMBÓLICO.  POR OUTRO LADO BOURDIEU CRITICA A SEMIOLOGIA PORQUE APLICA A QUALQUER OBJETO A TEORIA DO CONSENSO (QUESTÃO DO SENTIDO).

CIÊNCIA OBJETIVISTA, CUJO PARADIGMA MAIS RECENTE É O DA HERMENÊUTICA ESTRUTURALISTA, ASSUME UM PONTO DE VISTA ABSOLUTO QUE NÃO SE ATÉM AOS ESQUADROS DO OBSERVADOR/OBSERVADO, ACREDITA NA ILUSÃO DA CIÊNCIA COMO UMA ESPÉCIE DE ESPECTADOR DIVINO. SAUSSURE ENTENDE A LÍNGUA COMO OBJETO AUTÔNOMO E IRREDUTÍVEL ÀS SUAS ATUALIZAÇÕES, AOS ATOS DE FALA QUE TORNA POSSÍVEIS. A LÍNGUA: SISTEMA DE RELAÇÕES OBJETIVAS IRREDUTÍVEL ÀS PRÁTICAS ATRAVÉS DAS QUAIS  SE REALIZA E SE MANIFESTA E ÀS INTENÇÕES DOS SUJEITOS E À CONSCIÊNCIA QUE PODEM TOMAR DE SUAS INJUNÇÕES E DE SUA LÓGICA. AS PRÁTICAS OU AS OBRAS ENQUANTO FATOS SIMBÓLICOS, QUE É PRECISO DECIFRAR. OU AINDA A PREFERÊNCIA EM TRATÁ-LAS ENQUANTO OBRAS PRONTAS E NÃO ENQUANTO PRÁTICAS. BOURDIEU: A FALA APARECE COMO A CONDIÇÃO DA LÍNGUA, TANTO DO PONTO DE VISTA INDIVIDUAL COMO COLETIVO, UMA VEZ QUE A LÍNGUA NÃO PODE SER APREENDIDA FORA DA FALA, E PORQUE SUA APRENDIZAGEM SE REALIZA ATRAVÉS DA FALA, ORIGEM DAS INOVAÇÕES E TRANSFORMAÇÕES POR QUE PASSA A LÍNGUA.

ÓPTICA QUE PRIVILEGIA AS CONDIÇÕES LÓGICAS DO DECIFRAMENTO ONDE A LÍNGUA APARECE COMO CONDIÇÃO DE INTELIGIBILIDADE DA FALA. PERSPECTIVA QUE PRIVILEGIA AS RELAÇÕES QUE OS SIGNOS MANTÊM ENTRE SI (SUA ESTRUTURA) EM DETRIMENTO DE SUAS FUNÇÕES PRÁTICAS QUE DEVEM ABRANGER SUAS FUNÇÕES DE COMUNICAÇÃO/CONHECIMENTO COMO SUAS FUNÇÕES POLÍTICAS E ECONÔMICAS. CONSEQÜÊNCIA GRAVE DESSA POSTURA: PERIGOS DO ETNOCENTRISMO QUE AMEAÇAM O OBSERVADOR. LÍNGUA: CONDIÇÃO PRIMEIRA DO DISCURSO, TANTO SUA PRODUÇÃO COMO AS POSSIBILIDADES ABERTAS A SEU DECIFRAMENTO. ISSO SUPÕE, UMA COINCIDÊNCIA TOTAL ENTRE:

  • A COMPETÊNCIA QUE O AGENTE MOBILIZA EM SEU DISCURSO E EM SUA PRÁTICA E 
  • A COMPETÊNCIA MOBILIZADA PELO OBSERVADOR EM SUA PERCEPÇÃO DO DISCURSO/E DA PRÁTICA. 
EM TODOS OS CASOS EM QUE NÃO SE DÁ TAL PARALELISMO (NA MAIORIA DOS CASOS) SUCEDE UM ERRO QUANTO AO CRIVO, QUE O OBSERVADOR ADOTA PARA DECIFRAR O DISCURSO/E A PRÁTICA. BOURDIEU ACABA PRIVILEGIANDO AS FUNÇÕES SOCIAIS CUMPRIDAS PELOS SISTEMAS SIMBÓLICOS, AS QUAIS TENDEM A SE TRANSFORMAREM EM FUNÇÕES POLÍTICAS NA MEDIDA EM QUE A FUNÇÃO LÓGICA DE ORDENAÇÃO DO MUNDO SUBORDINA-SE ÀS FUNÇÕES SOCIALMENTE DIFERENCIADAS DE DIFERENCIAÇÃO SOCIAL E DE LEGITIMAÇÃO DAS DIFERENÇAS. AS CRÍTICAS DE BOURDIEU SE DIRIGEM:
  • AOS QUE ACREDITAM QUE A SOCIOLOGIA DOS FENÔMENOS SIMBÓLICOS NÃO PASSA DE UM CAPÍTULO DA SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO E NADA TEM A VER COM O SISTEMA DE PODER. PRIVILEGIAMENTO DE SUA SINTAXE. "SUA MANEIRA DE FALAR" EM DETRIMENTO "DO QUE SE FALA".

  • AOS QUE A ENTENDEM EM TERMOS DE UMA DIMENSÃO DA SOCIOLOGIA DO PODER PARA A QUAL OS SISTEMAS SIMBÓLICOS NÃO POSSUEM UMA REALIDADE PRÓPRIA. PRIVILEGIAMENTO DA TEMÁTICA DAS DIVERSAS LINGUAGENS SIMBÓLICAS. 
PARA SUPERAR ESSE CONFLITO: CONHECIMENTO DOS PRINCÍPIOS QUE SUSTENTAM A EFICÁCIA PRÓPRIA DOS SÍMBOLOS E LHES CONFEREM UM PODER EXTERNO (POLÍTICO). AMBAS AS TENDÊNCIAS ACABAM CONCEDENDO UM ESPAÇO BEM DELIMITADO À EXPERIÊNCIA OU À VONTADE DO AGENTE SOCIAL, REFORÇANDO O PESO EXPLICATIVO DAQUILO QUE MANIFESTA ACERCA DA REALIDADE. HANS PETER DREITZE : CONCEITO DE NEGOCIAÇÃO DOS PROCESSOS DE INTERPRETAÇÃO E TIPIFICAÇÃO A QUE RECORREM OS AGENTES ENVOLVIDOS NUMA DADA SITUAÇÃO, LEVA A CONSIDERAR O ATOR COMO SEDE ÚLTIMA DO SENTIDO E DA SIGNIFICAÇÃO. A ESTRUTURA SOCIAL SURGE COMO SE ESTIVESSE FUNDADA NOS PROCEDIMENTOS INTERPRETATIVOS DE SEUS MEMBROS. "IF MEN DEFINES A SITUATION AS REAL, IT IS REAL IN ITS COSEQUENCES".OS SÍMBOLOS E SIGNIFICADOS VIGENTES POSSUEM UM PESO DE REALIDADE EFETIVA. IDEOLOGIA = AUTONOMIA RELATIVA. AS DEFINIÇÕES DE QUE O AGENTE É CONSTRUTOR OU PORTADOR DÃO CONTA DO PROCESSO GLOBAL DE INTERAÇÃO. PAPEL CRUCIAL QUE O ELEMENTO VONTADE DESEMPENHA NA CONCEPÇÃO DE GRAMSCI NO TOCANTE À IDEOLOGIA. AFORA OS PROBLEMAS ATINENTES [QUE DIZEM RESPEITO A] À RELAÇÃO QUE SE INSTAURA ENTRE OBSERVADOR E INFORMANTE NO CURSO DA PESQUISA - PROBLEMÁTICA RECORRENTE NOS TRABALHOS DE INÚMERAS CORRENTES ANTROPOLÓGICAS QUE LIDAM COM REPRESENTAÇÕES, VALORES E CRENÇAS - A VALORIZAÇÃO DA DIMENSÃO SIMBÓLICA OU IDEOLÓGICA DOS PROCESSOS SOCIAIS LIGA-SE A UMA ÊNFASE QUANTO ÀS DETERMINAÇÕES ESPECÍFICAS DO SISTEMA DE DOMINAÇÃO (WEBER/ GRAMSCI). PRIVILEGIAMENTO EXCESSIVO DOS MODOS PELOS QUAIS O AGENTE ORDENA A REALIDADE QUE O ENVOLVE. UM TRAÇO COMUM ENTRE AS DISTINTAS DIREÇÕES ASSUMIDAS POR AMBAS AS LINHAS DE INVESTIGAÇÃO, É A SUSPENSÃO DE ESQUEMAS RÍGIDOS DE EXPLICAÇÃO, MORMENTE [SOBRETUDO] OS DE TIPO ECONOMICISTA. CONTRIBUIÇÃO WEBERIANA: SENTIDO DE PRIVILEGIAR O EXAME DAS CONDIÇÕES ECONÔMICAS E POLÍTICAS QUE PRESIDEM À FORMAÇÃO DE APARELHOS DE PRODUÇÃO SIMBÓLICA INSTITUCIONALIZADOS. GRAMSCI: OSCILAÇÕES ENTRE A RECUSA DO MATERIALISMO MECÂNICO/FATALISTA E A TENTATIVA DE LIVRAR-SE DE UMA CONCEPÇÃO VOLUNTARISTA DO PROCESSO HISTÓRICO EM QUE OS FATORES POLÍTICOS E IDEOLÓGICOS TERIAM LUGAR DE PESO.TENTATIVA DE ELABORAR UMA TEORIA REGIONAL DOS FATOS CULTURAIS CAPAZ DE COMPATIBILIZAR AS CONTRIBUIÇÕES DOS FUNDADORES (MARX, WEBER E DURKHEIM) - NUM ESFORÇO DE COMPENSAR AS CARÊNCIAS E OMISSÕES DERIVADAS DA PERSPECTIVA UNILATERAL QUE ASSUMIRAM - MUITOS PODERIAM APRESSADAMENTE, QUALIFICAR TAL PROJETO DE ECLÉTICO, PLURALISTA, SINCRÉTICO, E ATÉ MESMO PENSAR EM BRICOLAGE [ATIVIDADES EM QUE VOCÊ MESMO REALIZA PARA SEU PRÓPRIO USO E CONSUMO, EVITANDO DESTE MODO O EMPREGO DE UM SERVIÇO PROFISSIONAL]. O QUE BOURDIEU PRETENDE É RETIFICAR A TEORIA DO CONSENSO POR UMA CONCEPÇÃO TEÓRICA CAPAZ DE REVELAR AS CONDIÇÕES MATERIAIS E INSTITUCIONAIS QUE PRESIDEM À CRIAÇÃO E À TRANSFORMAÇÃO DE APARELHOS DE PRODUÇÃO SIMBÓLICA CUJOS BENS DEIXARAM DE SER VISTOS COMO MEROS INSTRUMENTOS DE COMUNICAÇÃO/CONHECIMENTO. UMA VEZ QUE OS SISTEMAS SIMBÓLICOS DERIVAM SUAS ESTRUTURAS DA APLICAÇÃO SISTEMÁTICA DE UM SIMPLES PRINCIPIUM DIVISIONIS E PODEM ORGANIZAR A REPRESENTAÇÃO DO MUNDO NATURAL E SOCIAL DIVIDINDO-O EM TERMOS DE CLASSES ANTAGÔNICAS.

"UMA VEZ QUE FORNECEM TANTO O SIGNIFICADO QUANTO UM CONSENSO EM RELAÇÃO AO SIGNIFICADO ATRAVÉS DA LÓGICA DE INCLUSÃO/EXCLUSÃO, ENCONTRAM-SE PREDISPOSTOS POR SUA PRÓPRIA ESTRUTURA A PREENCHER FUNÇÕES SIMULTÂNEAS DE
  • INCLUSÃO E EXCLUSÃO
  • ASSOCIAÇÃO E DISSOCIAÇÃO
  • INTEGRAÇÃO E DISTINÇÃO
SOMENTE NA MEDIDA EM QUE TEM COMO SUA FUNÇÃO LÓGICA E GNOSIOLÓGICA A ORDENAÇÃO DO MUNDO E A FIXAÇÃO DE UM CONSENSO A SEU RESPEITO, É QUE A CULTURA DOMINANTE PREENCHE SUA FUNÇÃO IDEOLÓGICA - ISTO É POLÍTICA - DE LEGITIMAR UMA ORDEM ARBITRÁRIA. É PORQUE ENQUANTO UMA ESTRUTURA ESTRUTURADA ELA REPRODUZ SOB FORMA TRANSFIGURADA E, PORTANTO, IRRECONHECÍVEL, A ESTRUTURA DAS RELAÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS PREVALECENTES. ENQUANTO UMA ESTRUTURA ESTRUTURANTE (COMO UMA PROBLEMÁTICA) A CULTURA PRODUZ UMA REPRESENTAÇÃO DO MUNDO SOCIAL IMEDIATAMENTE AJUSTADA À ESTRUTURA DAS RELAÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS QUE DORAVANTE, PASSAM A SER PERCEBIDAS COMO NATURAIS E DESTARTE, PASSAM A CONTRIBUIR PARA A CONSERVAÇÃO SIMBÓLICA DAS RELAÇÕES DE FORÇAS VIGENTES."

O PERÍODO TRANSCRITO SINTETIZA BEM A CONCEPÇÃO DA CULTURA SUBJACENTE À SOCIOLOGIA DOS FATOS SIMBÓLICOS.  ÓPTICA DA REPRODUÇÃO MEDIANTE A QUAL A SOCIOLOGIA DA CULTURA SE CONSTITUI COMO CIÊNCIA DAS RELAÇÕES ENTRE A REPRODUÇÃO SOCIAL E A REPRODUÇÃO CULTURAL, VALE DIZER, DE QUE MANEIRA AS RELAÇÕES ENTRE OS GRUPOS/AS CLASSES OBEDECEM A UMA LÓGICA QUE SE REPRODUZ DE FORMA DISSIMULADA NO PLANO DAS SIGNIFICAÇÕES. CONTUDO, ANTES QUE SE POSSA ATRIBUIR À CULTURA UMA FUNÇÃO EXTERNA, CONVÉM CONHECER OS APARELHOS DE PRODUÇÃO SIMBÓLICA ONDE SE CONSTITUEM SUAS LINGUAGENS E REPRESENTAÇÕES E POR MEIO DOS QUAIS ELA GANHA UMA REALIDADE PRÓPRIA. ANTES DE PODER APONTAR A DISSIMULAÇÃO QUE A CULTURA OPERA, É PRECISO DAR CONTA DOS DOMÍNIOS MAIS OU MENOS AUTÔNOMOS DO CAMPO SIMBÓLICO CUJA ORGANIZAÇÃO INTERNA DETERMINA O CARÁTER PROPRIAMENTE SIMBÓLICO QUE OSTENTAM OS BENS AÍ PRODUZIDOS.    

UMA VEZ QUE A CULTURA SÓ EXISTE EFETIVAMENTE SOB A FORMA DE SÍMBOLOS, DE UM CONJUNTO DE SIGNIFICANTES/SIGNIFICADOS, DE ONDE PROVÉM SUA EFICÁCIA PRÓPRIA, A PERCEPÇÃO DESSA REALIDADE SEGUNDA, PROPRIAMENTE SIMBÓLICA,  QUE A CULTURA PRODUZ E INCULCA [GRAVAR, IMPRIMIR NO ESPÍRITO DE ALGUÉM], PARECE INDISSOCIÁVEL DE SUA FUNÇÃO POLÍTICA. ASSIM COMO NÃO EXISTEM PURAS RELAÇÕES DE FORÇA, TAMBÉM NÃO HÁ RELAÇÕES DE SENTIDO QUE NÃO ESTEJAM REFERIDAS E DETERMINADAS POR UM SISTEMA DE DOMINAÇÃO. IMPORTA IDENTIFICAR AS RELAÇÕES DE SENTIDO, MODALIDADE COM QUE AS RELAÇÕES DE FORÇA SE MANIFESTAM. NA REDUÇÃO DO SENTIDO À FORÇA AS RELAÇÕES DE CLASSE REVELAM SEU FUNDAMENTO, AO PASSO QUE A METAMORFOSE DA FORÇA EM SENTIDO REFORÇA COMO UMA FORÇA PRÓPRIA O CARÁTER ARBITRÁRIO DAS RELAÇÕES DE CLASSE ENQUANTO RELAÇÕES DE FORÇA. PARA ALÉM DAS REPRESENTAÇÕES QUE OS AGENTES INCORPORAM, CAPAZES DE PROPICIAR JUSTIFICATIVAS SIMBÓLICAS PARA A POSIÇÃO QUE OCUPAM, O OBSERVADOR DEVE RECONSTRUIR O SISTEMA COMPLETO DE RELAÇÕES SIMBÓLICAS E NÃO-SIMBÓLICAS, OU SEJA, AS CONDIÇÕES DE EXISTÊNCIA MATERIAL E A HIERARQUIA SOCIAL DAÍ RESULTANTE. O TRAJETO DE BOURDIEU VISA ALIAR O 
  • CONHECIMENTO DA ORGANIZAÇÃO INTERNA DO CAMPO SIMBÓLICO, CUJA EFICÁCIA RESIDE JUSTAMENTE NA POSSIBILIDADE DE ORDENAR O MUNDO NATURAL E SOCIAL ATRAVÉS DE DISCURSOS, MENSAGENS, REPRESENTAÇÕES - QUE NÃO PASSAM DE ALEGORIAS QUE SIMULAM A ESTRUTURA REAL DE RELAÇÕES SOCIAIS
  • A UMA PERCEPÇÃO DE SUA FUNÇÃO IDEOLÓGICA E POLÍTICA E LEGITIMAR UMA ORDEM ARBITRÁRIA EM QUE SE FUNDA O SISTEMA DE DOMINAÇÃO VIGENTE
TAL SOLUÇÃO LIGA-SE A UMA DETERMINADA IMAGEM DA SOCIEDADE E, EM PARTICULAR, DA SOCIEDADE CAPITALISTA CUJO DESENVOLVIMENTO BASEIA-SE NUMA DIVISÃO DO TRABALHO ALTAMENTE COMPLEXA E DIFERENCIADA A QUE CORRESPONDE UMA SOCIEDADE DE CLASSES, CUJAS POSIÇÕES RESPECTIVAS E CUJO PESO RELATIVO ENCONTRAM SEU FUNDAMENTO NAS FORMAS PELAS QUAIS SE REPARTE, DE MANEIRA DESIGUAL, O PRODUTO DO TRABALHO, SOB AS MODALIDADES DE CAPITAL ECONÔMICO E CULTURAL. DO ÂNGULO DA REPRODUÇÃO, A CONCEPÇÃO DE UM CAMPO SIMBÓLICO DOTADO DE AUTONOMIA RELATIVA ENVOLVE UMA REGIONALIZAÇÃO DA REALIDADE SOCIAL CUJOS FUNDAMENTOS DERIVAM TANTO DE UM PROCESSO HISTÓRICO SINGULAR QUANTO DE CATEGORIAS AÍ PRODUZIDAS QUE PASSAM A INFORMAR E JUSTIFICAR O PRINCÍPIO DE DIFERENCIAÇÃO EM QUE SE APÓIA UMA DETERMINADA CONCEPÇÃO TEÓRICA. IMPLICA UMA IMAGEM DO CAMPO DAS RELAÇÕES DE CLASSE QUE, NESTE CASO, É ENTENDIDA SEGUNDO A FORMULAÇÃO WEBERIANA, UM SISTEMA DE CONDIÇÕES E POSIÇÕES DE CLASSE. EXIGE UM CONJUNTO DE INSTRUMENTOS E MÉTODOS DE ANÁLISE ADEQUADAS AOS ALVOS DA EXPLICAÇÃO A QUE SE PROPÕE. A INTENÇÃO AQUI É DAR ALGUMAS INDICAÇÕES A RESPEITO DAS FORMAÇÕES TEÓRICAS CUJA PRESENÇA APARECE SIGNIFICATIVA PARA A COMPREENSÃO RIGOROSA DE UM SISTEMA DE CONCEITOS COMO ESTE, NÃO HAVENDO, QUALQUER PRETENSÃO DE FORMULAR UM QUADRO TEÓRICO SUBSTANTIVO. NESTE SENTIDO, O CAMINHO ADEQUADO TALVEZ SEJA RETORNAR ALGUNS ELEMENTOS DA TRADIÇÃO DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO A QUE O AUTOR SE FILIA, MATRIZ DE SUA CONCEPÇÃO SINGULAR DO CAMPO SIMBÓLICO.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

1ª parte - crítica social do julgamento do gosto (leitura sistematizada)


  • A ESTÉTICA POPULAR (P.35)
CISMA CULTURAL: ASSOCIA CADA CLASSE DE OBRAS COM SEU PÚBLICO. DIFÍCIL OBTER UM JULGAMENTO REALMENTE VIVENCIADO PELOS MEMBROS DAS CLASSES POPULARES SOBRE AS EXPERIMENTAÇÕES DA ARTE MODERNA. LEVAR PARA DENTRO DE CASA ALGUNS ESPETÁCULOS ERUDITOS OU CERTAS EXPERIÊNCIAS CULTURAIS QUE COLOCAM NO ESPAÇO DE UM MOMENTO, UM PÚBLICO POPULAR EM PRESENÇA DE OBRAS ERUDITAS, ÀS VEZES DE VANGUARDA. A TELEVISÃO CRIA VERDADEIRAS SITUAÇÕES EXPERIMENTAIS, NEM MAIS NEM MENOS ARTIFICIAIS OU IRREAIS QUE AQUELA PRODUZIDA POR QUALQUER PESQUISA EM MEIO POPULAR SOBRE A CULTURA LEGÍTIMA. PÂNICO MESCLADO DE REVOLTA DIANTE DE CERTOS OBJETOS. ESPÉCIE DE AGRESSÃO E DESAFIO AO BOM SENSO E ÀS PESSOAS DE BOM SENSO. EX: PROGRAMAS TELEVISIVOS DE VARIEDADES COM EFEITOS ESPECIAIS À MANEIRA DE AVERTY. OS ESPECTADORES DAS CLASSES POPULARES REAGEM NÃO SÓ PORQUE NÃO SENTEM NECESSIDADE DESTAS REPRESENTAÇÕES PURAS, MAS COMPREENDEM QUE SUA NECESSIDADE VEM DA LÓGICA DE CERTO CAMPO DE PRODUÇÃO QUE, POR ESTAS MESMAS REPRESENTAÇÕES, OS EXCLUI.

EXPERIMENTAÇÃO FORMAL QUE NA LITERATURA OU NO TEATRO LEVA À OBSCURIDADE. OPINIÃO DO PÚBLICO POPULAR, DESEJO DE MANTER À DISTÂNCIA O NÃO INICIADO.A PROPÓSITO DE CERTOS PROGRAMAS CULTURAIS DA TELEVISÃO. APARELHO PELO QUAL SE ANUNCIA O CARÁTER SAGRADO, SEPARADO, QUE SUSCITA A SEPARAÇÃO DA CULTURA LEGÍTIMA, DOS GRANDES MUSEUS, LUXO GRANDIOSO DAS ÓPERAS E DOS GRANDES TEATROS, CENÁRIOS E APARATOS DOS CONCERTOS. O PÚBLICO POPULAR APREENDE CONFUSAMENTE. FATO DE DAR FORMA E DE COLOCAR FORMAS, TANTO NA ARTE QUANTO NA VIDA. UMA ESPÉCIE DE CENSURA DO CONTEÚDO EXPRESSIVO. EXPLODE NA EXPRESSIVIDADE DO FALAR POPULAR. AO MESMO TEMPO UM DISTANCIAMENTO, INERENTE À FRIEZA CALCULADA DE QUALQUER EXPERIMENTAÇÃO FORMAL. UMA RECUSA DE COMUNICAÇÃO ESCONDIDA NO ÂMAGO DA PRÓPRIA COMUNICAÇÃO EM UMA ARTE QUE DISSIMULA E RECUSA O QUE ELA PARECE MANIFESTAR TÃO BEM QUANTO NA CORTESIA BURGUESA. IMPECÁVEL FORMALISMO É UMA PERMANENTE ADVERTÊNCIA CONTRA A TENTAÇÃO DA FAMILIARIDADE. INVERSAMENTE, O ESPETÁCULO POPULAR PROPORCIONA A PARTICIPAÇÃO INDIVIDUAL DO ESPECTADOR NO ESPETÁCULO, ASSIM COMO A PARTICIPAÇÃO COLETIVA NA FESTA PROMOVIDA PELO ESPETÁCULO. CIRCO, MELODRAMA, ESPETÁCULOS ESPORTIVOS, BOXE SÃO MAIS POPULARES QUE OUTROS ESPETÁCULOS COMO A DANÇA E O TEATRO. POR SEREM MENOS FORMALIZADOS, OFERECEM SATISFAÇÕES MAIS DIRETAS E IMEDIATAS. MUSICA HALL, OPERETA, FILME DE GRANDE ESPETÁCULO, MAGIA DOS CENÁRIOS, BRILHO NOS TRAJES, MÚSICA ENVOLVENTE, VIVACIDADE DA AÇÃO, ARDOR DOS ATORES. SATISFAÇÃO, FORMAS DE COMICIDADE, DAQUELAS QUE TIRAM SEUS EFEITOS DA PARÓDIA, SÁTIRA DOS GRANDES ARTISTAS, IMITADORES, CANTORES, GOSTO E SENTIDO DA FESTA, CONVERSAÇÃO, BRINCADEIRAS ESPONTÂNEAS. DESFECHO: LIBERAÇÃO POR COLOCAR O MUNDO SOCIAL DE PONTA CABEÇA, DERRUBANDO AS CONVENÇÕES E AS CONVENIÊNCIAS.


  • O DISTANCIAMENTO ESTÉTICO (P.37)
LADO OPOSTO DO ESTETA QUE SE APROPRIA DE UM DOS OBJETOS DO GOSTO POPULAR, WESTERN OU HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E INTRODUZ UM DISTANCIAMENTO, UMA DIFERENÇA, DIMENSÃO DE SUA DISTINÇÃO DISTANTE. PERCEPÇÃO DE PRIMEIRO GRAU, DESLOCANDO O INTERESSE DO CONTEÚDO, PERSONAGENS, PERIPÉCIAS EM DIREÇÃO À FORMA, AOS EFEITOS PROPRIAMENTE ARTÍSTICOS QUE SE APRECIAM APENAS RELACIONALMENTE PELA COMPARAÇÃO COM OUTRAS OBRAS. EXCLUSIVA DA IMERSÃO NA SINGULARIDADE DA OBRA IMEDIATAMENTE DADA. INCESSANTE REPETIÇÃO PELA TEORIA ESTÉTICA DE QUE A ÚNICA MANEIRA DE RECONHECER A OBRA DE ARTE PELO O QUE ELA É (AUTÔNOMA) IMPLICAVA O DESPRENDIMENTO, O DESINTERESSE, A INDIFERENÇA. TAIS PALAVRAS SIGNIFICAM VERDADEIRAMENTE DESINVESTIMENTO, DESPRENDIMENTO E INDIFERENÇA, OU SEJA, RECUSA DE INVESTIR-SE E DE LEVAR ALGO A SÉRIO.LEITORES DESILUDIDOS, ADVERTIDOS DE QUE NADA É MAIS INGÊNUO E VULGAR QUE INVESTIR DEMASIADA PAIXÃO NAS COISAS DO ESPÍRITO, OU DE ESPERAR DELAS DEMASIADA SERIEDADE. ACOSTUMADOS A OPOR TACITAMENTE LIBERDADE DE ESPÍRITO E INTEGRIDADE MORAL OU A CONSTÂNCIA POLÍTICA. OBRAS AUTOSSUFICIENTES (SELF-CONTAINED) INSPIRAM APENAS O DESEJO, É CLARO, DE LER NOVAMENTE O LIVRO E COMPREENDÊ-LO MELHOR. VIRGINIA WOOLF CRITICA OS ROMANCES DE H.G.WELLS, JOHN GALSWORTHY E ARNOLD BENETT - DEIXAM UM SENTIMENTO ESTRANHO DE INCOMPLETUDE E DE INSATISFAÇÃO.

RECUSA DE QUALQUER ESPÉCIE DE INVOLVEMENT, DE ADESÃO INGÊNUA, ABANDONO VULGAR À SEDUÇÃO FÁCIL E AO ARREBATAMENTO COLETIVO QUE SE ENCONTRA INDIRETAMENTE NO ORIGEM DO GOSTO PELAS EXPERIMENTAÇÕES FORMAIS E PELAS REPRESENTAÇÕES SEM OBJETO. NUNCA SEJA TALVEZ TÃO VISÍVEL QUANTO NAS REAÇÕES DIANTE DA PINTURA. SE VÊ CRESCER, EM FUNÇÃO NO NÍVEL DE INSTRUÇÃO A PARCELA DAQUELES QUE INTERROGADOS SOBRE A POSSIBILIDADE DE TIRAR UMA BELA FOTOGRAFIA COM UMA SÉRIE DE OBJETOS, RECUSAM COMO VULGARES E FEIOS, OU REJEITAM COMO INSIGNIFICANTES, TOLOS, CAFONAS, OU NA LINGUAGEM DE ORTEGA Y GASSET, INGENUAMENTE HUMANOS, OS OBJETOS COMUNS DA ADMIRAÇÃO POPULAR: PRIMEIRA COMUNHÃO, DANÇA FOLCLÓRICA, PÔR-DO-SOL NO MAR OU PAISAGEM. ASSIM COMO A PARCELA DAQUELES QUE AFIRMAM A AUTONOMIA DA REPRESENTAÇÃO EM RELAÇÃO À COISA REPRESENTADA, JULGAM QUE É POSSÍVEL TIRAR UMA BELA FOTOGRAFIA E EXECUTAR UMA BELA PINTURA COM OBJETOS SOCIALMENTE DESIGNADOS COMO INSIGNIFICANTES: ARMAÇÃO METÁLICA, CASCA DE ÁRVORE, COUVES, OBJETOS TRIVIAIS POR EXCELÊNCIA OU COMO FEIOS OU REPELENTES ACIDENTE DE TRÂNSITO, BALCÃO DE AÇOUGUE, CASCA DE ÁRVORE, (ESCOLHIDO POR ALUSÃO A REMBRANDT) OU UMA SERPENTE (POR REFERÊNCIA A BOILEAU), OU AINDA COMO INCONVENIENTE, UMA MULHER GRÁVIDA.

FOI IMPOSSÍVEL INSTALAR UM VERDADEIRO DISPOSITIVO EXPERIMENTAL. FORAM COLETADAS AS DECLARAÇÕES DOS ENTREVISTADOS SOBRE O QUE ELES JULGAM FOTOGRAFÁVEL E LHES PARECE SUSCETÍVEL DE SER CONSTITUÍDO ESTETICAMENTE (POR OPOSIÇÃO AO QUE É EXCLUÍDO POR SUA INSIGNIFICÂNCIA, FEIÚRA OU POR RAZÕES ÉTICAS. APTIDÃO PARA ADOTAR A DISPOSIÇÃO ESTÉTICA ENCONTRA-SE DESSE MODO, AVALIADA PELA DIFERENÇA ENTRE O QUE É CONSTITUÍDO, DO PONTO DE VISTA ESTÉTICO, PELO INDIVÍDUO OU PELO GRUPO CONSIDERADO. E O QUE É CONSTITUÍDO ESTETICAMENTE EM DETERMINADO ESTADO DO CAMPO DA PRODUÇÃO PELOS DETENTORES DA LEGITIMIDADE ARTÍSTICA. EM UM CAMPO DE PRODUÇÃO CUJA LEI DE EVOLUÇÃO É A DIALÉTICA DA DISTINÇÃO, É TAMBÉM UMA DEFASAGEM TEMPORAL, UM ATRASO.

OS ENTREVISTADOS RESPONDERAM À SEGUINTE PERGUNTA: EM SUA OPINIÃO, QUAL É A PALAVRA QUE EXPRIME MELHOR A FOTO TIRADA POR UM FOTÓGRAFO COM OS SEGUINTES TEMAS: PAISAGEM, ACIDENTE DE TRÂNSITO...ETC. BELA, INTERESSANTE, INSIGNIFICANTE OU FEIA.NA PRÉ-PESQUISA, PERÍODO EM QUE OS ENTREVISTADOS FORAM CONVIDADOS A JULGAR ALGUMAS FOTOGRAFIAS QUE, NO DECORRER DA ENTREVISTA PROPRIAMENTE DITA, ERAM SIMPLESMENTE NOMEADOS, AS REAÇÕES REGISTRADAS DIANTE DO MERO PROJETO DA IMAGEM REVELARAM-SE TOTALMENTE CONCORDANTES COM AS REAÇÕES SUSCITADAS PELA IMAGEM REALIZADA. PROVA DE QUE O VALOR ATRIBUÍDO À IMAGEM TENDE A CORRESPONDER AO VALOR ATRIBUÍDO À COISA.O RECURSO A FOTOGRAFIAS TEVE A INTENÇÃO DE EVITAR OS EFEITOS DA IMPOSIÇÃO DE LEGITIMIDADE PRODUZIDOS EVENTUALMENTE PELA PINTURA E CONSIDERANDO QUE A PRÁTICA DA FOTOGRAFIA É PERCEBIDA COMO MAIS ACESSÍVEL.

BELA, INTERESSANTE, INSIGNIFICANTE OU FEIA?

  • PAISAGEM
  • ACIDENTE DE TRÂNSITO
  • MENINA BRINCANDO COM GATO
  • MULHER GRÁVIDA
  • NATUREZA-MORTA
  • MULHER AMAMENTANDO BEBÊ
  • ARMAÇÃO METÁLICA
  • BRIGA DE MENDIGOS
  • COUVES
  • PÔR-DO-SOL NO MAR
  • TECELÃO NO TEAR
  • DANÇA FOLCLÓRICA
  • CORDA
  • BALCÃO DE AÇOUGUE
  • CASCA DE ÁRVORE
  • MONUMENTO CÉLEBRE
  • CEMITÉRIO DE SUCATA
  • PRIMEIRA COMUNHÃO
  • HOMEM FERIDO
  • SERPENTE
  • QUADRO DE MESTRE
TESTE PROPOSTO FOI MAIS APROPRIADO PARA COLETAR DECLARAÇÕES DE INTENÇÃO ARTÍSTICA DO QUE AVALIAR A CAPACIDADE DE EXECUTAR ESSA INTENÇÃO (NA PRÁTICA DA PINTURA/FOTOGRAFIA) OU ATÉ MESMO NA PERCEPÇÃO DAS OBRAS DE ARTE. ESSE TESTE PERMITIU FIXAR OS FATORES QUE DETERMINAM A CAPACIDADE DE ADOTAR A POSTURA SOCIALMENTE DESIGNADA COMO PROPRIAMENTE ESTÉTICA. A RELAÇÃO CAPITAL CULTURAL E INDÍCIOS NEGATIVOS E POSITIVOS DA DISPOSIÇÃO ESTÉTICA, A ESTATÍSTICA ESTABELECE QUE OS OBJETOS FAVORITOS DA FOTOGRAFIA COM AMBIÇÃO ESTÉTICA OCUPAM UMA POSIÇÃO INTERMEDIÁRIA.INDÍCIOS NEGATIVOS: RECUSA POR PARTE DO CAFONA. INDÍCIOS POSITIVOS: CAPACIDADE PARA  PROMOVER O INSIGNIFICANTE OU NO MÍNIMO DA CAPACIDADE PARA ACIONAR A CLASSIFICAÇÃO ARBITRÁRIA E DESCONHECIDA COMO TAL QUE, NO INTERIOR DO UNIVERSO DOS OBJETOS TRABALHADOS, DISTINGUE AQUELES QUE, SOCIALMENTE, SÃO DESIGNADOS COMO DIGNOS DE EXIGIR E MERECER UMA ABORDAGEM SEGUNDO UMA DISPOSIÇÃO CAPAZ DE RECONHECÊ-LOS E CONSTITUÍ-LOS ENQUANTO OBRAS DE ARTE. 

COMPARABILIDADE FORMAL: O MESMO CONTEÚDO NÃO EXISTE NAS DIFERENTES CLASSES SOCIAIS. DIPLOMAS ELEVADOS CRESCE À MEDIDA QUE SE SOBE NA HIERARQUIA SOCIAL. AS ESCOLHAS MAIS RARAS (BELA - COUVE/SERPENTE OU INSIGNIFICANTE - PÔR DO SOL) CRESCEM QUANDO SE AVANÇA EM DIREÇÃO ÀS CLASSES SUPERIORES).

A ESTATÍSTICA MOSTRA QUE AS MULHERES MANIFESTAM MAIS FREQUENTEMENTE QUE OS HOMENS SUA REPUGNÂNCIA PELOS OBJETOS REPUGNANTES, HORRÍVEIS/ POUCO DECENTES. A FOTO DE UM HOMEM FERIDO SÓ PODE SER FEIA.DIFERENÇAS QUASE NULAS EM RELAÇÃO À NATUREZA-MORTA OU ÀS COUVES. MULHERES MAIS IDENTIFICADAS COM AS TAREFAS E COM OS SENTIMENTOS HUMANOS/HUMANITÁRIOS, DECORRENTES DA DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO E A OPOSIÇÃO ENTRE A RAZÃO E A SENSIBILIDADE. HOMENS EX OFFICIO (?) - DO LADO DA CULTURA. MULHER - JOGADA À SEMELHANÇA DO POVO, PARA O LADO DA NATUREZA. CENSURA E RECALQUE DOS SENTIMENTOS NATURAIS, TRAÇOS PRESSUPOSTOS PARA A ADOÇÃO DA DISPOSIÇÃO ESTÉTICA. A RECUSA DA NATUREZA/ ABANDONO À NATUREZA ENCONTRAM-SE NA ORIGEM DA ATITUDE ESTÉTICA. 

DISPOSIÇÃO ESTÉTICA DOS DETENTORES DE DIPLOMAS: AO DECLARAR QUE TODAS AS COISAS PODEM TORNAR-SE OBJETO DE UMA PERCEPÇÃO ARTÍSTICA. REPULSA DAS MULHERES (NEUTRALIZAÇÃO ESTÉTICA) E SUA SUBMISSÃO AO MODELO TRADICIONAL DA DIVISÃO DO TRABALHO ENTRE OS SEXOS. REDUZIDO CAPITAL CULTURAL. BAIXA POSIÇÃO NA HIERARQUIA SOCIAL. MULHERES DA NOVA PEQUENA BURGUESIA. MULHERES DE INDUSTRIAIS. MULHERES DE GRANDES COMERCIANTES. MULHERES DE ARTESÃOS E COMERCIANTES. MULHERES DE OPERÁRIOS/EMPREGADOS. ELAS MANIFESTAM SUA PRETENSÃO ESTÉTICA E SUA VONTADE DE MOSTRAR-SE LIVRES DOS TABUS ÉTICOS IMPOSTOS À SUA CONDIÇÃO FEMININA.

NÃO HÁ NADA QUE DISTINGUA TÃO RIGOROSAMENTE AS DIFERENTES CLASSES QUANTO À DISPOSIÇÃO EXIGIDA PELO CONSUMO LEGÍTIMO DAS OBRAS LEGÍTIMAS. APTIDÃO PARA ADOTAR UM PONTO DE VISTA PROPRIAMENTE ESTÉTICO A RESPEITO DE OBJETOS JÁ CONSTITUÍDOS ESTETICAMENTE.  DESIGNADOS PARA ADMIRAÇÃO DAQUELES QUE APRENDERAM A  A RECONHECER OS SIGNOS DO ADMIRÁVEL. MAIS RARO: CAPACIDADE PARA CONSTITUIR ESTETICAMENTE OBJETOS QUAISQUER/ VULGARES (APROPRIADOS ESTETICAMENTE PELO VULGAR). PRINCÍPIOS DE UMA ESTÉTICA PURA NAS ESCOLHAS MAIS COMUNS DA EXISTÊNCIA COMUM. EM MATÉRIA DE CARDÁPIO, VESTUÁRIO, DECORAÇÃO DA CASA. MAS SE É INDISPENSÁVEL PARA ESTABELECER AS CONDIÇÕES SOCIAIS DE POSSIBILIDADE DA DISPOSIÇÃO PURA, A PESQUISA ESTATÍSTICA, TESTE ESCOLAR QUE CONFRONTA PESSOAS INTERROGADAS A UMA NORMA ABSOLUTA. CORRE O RISCO DE DEIXAR ESCAPAR A SIGNIFICAÇÃO ATRIBUÍDA PELAS DIFERENTES CLASSES SOCIAIS A ESTA DISPOSIÇÃO E À ATITUDE GLOBAL EM RELAÇÃO AO MUNDO QUE SE EXPRIME POR SEU INTERMÉDIO. LÓGICA DO TESTE: INCAPACIDADE/ RECUSA. ORIGEM NA DENÚNCIA DA GRATUIDADE ARBITRÁRIA OU OSTENTATÓRIA DOS EXERCÍCIOS DE ESTILO E DAS EXPERIMENTAÇÕES PURAMENTE FORMAIS. EM NOME DE UMA ESTÉTICA, A FOTOGRAFIA ENCONTRA SUA JUSTIFICATIVA NO OBJETO FOTOGRAFADO/ NO USO EVENTUAL DA IMAGEM FOTOGRÁFICA. OS OPERÁRIOS RECUSAM O FATO DE FOTOGRAFAR POR FOTOGRAFAR. EXEMPLO: FOTOGRAFIA DE SEIXOS - INÚTIL, PERVERSO, BURGUÊS."É UM DESPERDÍCIO DE FILME. A PESSOA DEVE TER MUITO FILME PRA JOGAR FORA.

ESTÉTICA POPULAR = ESTÉTICA DOMINADA, OBRIGADA A DEFINIR-SE EM RELAÇÃO ÀS ESTÉTICAS DOMINANTES. OS MEMBROS DAS CLASSES POPULARES NÃO PODEM IGNORAR A ESTÉTICA ERUDITA NEM RENUNCIAR SUAS INCLINAÇÕES SOCIALMENTE CONDICIONADAS E DEFENDÊ-LAS EM PÚBLICO E LEGITIMÁ-LAS. MANTÊM (PRINCIPALMENTE AS MULHERES) RELAÇÃO AMBIVALENTE COM AS NORMAS ESTÉTICAS. OPERÁRIOS, PEQUENOS-BURGUESES, ATRIBUEM ÀS FOTOGRAFIAS PURAS UM RECONHECIMENTO PURAMENTE VERBAL. DISTINGUEM-SE NO SENTIDO EM QUE SABEM O QUE CONVÉM FAZER, DIZER OU NÃO DIZER. "ISSO É LINDO, MAS NÃO ME PASSARIA PELA CABEÇA PEGAR UMA COISA DESSAS"/"COM CERTEZA, ISSO É MUITO LINDO PARA QUEM POSSA APRECIAR, MAS NÃO É O MEU CASO."